“A fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus. Mas vós sois
dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e
justiça e santificação, e redenção, para que, como está escrito: ‘Aquele que se
gloria, glorie-se no Senhor’.” (1 Coríntios 1:29-31)
Os cristãos a quem o apóstolo
direciona esta epístola habitavam em uma parte do mundo onde a sabedoria humana
era grandemente reputada. Como o apóstolo observa, no versículo 22 deste
capítulo: “Os gregos buscam sabedoria.” Corinto não ficava distante de
Atenas, que havia sido, por muitos séculos, o mais famoso centro de filosofia e
erudição no mundo. E, por esse motivo, o apóstolo lhes observa como Deus, pelo
evangelho, destruiu e reduziu a nada a sabedoria deles. Os gregos eruditos e seus
grandes filósofos, com toda a sua sabedoria, não conheceram a Deus, nem foram
capazes de descobrir a verdade nas coisas divinas. Mas, após se esforçarem ao
máximo, em vão, aprouve a Deus, por fim, revelar-se pelo evangelho, o qual
reputavam como tolice. Ele “escolheu as coisas loucas do mundo para
envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as
fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e
aquelas que não são, para reduzir a nada as que são.” E o apóstolo os
informa na nossa passagem por que Deus assim o faz: “A fim de que ninguém se
vanglorie na presença de Deus.” Nessas palavras, pode ser observado:
1. O que Deus almeja na
maneira como dispõe as coisas na matéria da redenção, a saber, que o homem não
deva se gloriar em ninguém, senão nEle (1
Co 1:29,31): “A fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus,
para que, como está escrito: ‘Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor’.”
2. Como este propósito é
alcançado na obra da redenção, a saber, por aquela absoluta e imediata
dependência que os homens têm de Deus, nessa obra, para todos os seus
benefícios. Uma vez que:
Primeiro, todo o bem que possuem é em e através de Cristo;
ele se tornou para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção (1 Co
1:30). Todo o bem da criatura caída e redimida está contido nestas
quatro coisas, e não pode ser mais bem distribuído a não ser nelas. Cristo,
porém, nos é cada uma delas, e não as possuímos de outra maneira senão
nele. Ele se tornou para nós sabedoria de Deus: nele está todo bem
e a verdadeira excelência do entendimento. A sabedoria era algo admirado pelos
gregos; mas Cristo é a verdadeira luz do mundo. É somente através dele que a
verdadeira sabedoria é comunicada à mente. É em e por Cristo que temos a justiça:
é por estar nele que somos justificados, temos os pecados perdoados, e somos
recebidos como justos no favor de Deus. É por Cristo que temos a santificação:
temos nele verdadeira excelência de coração, bem como de entendimento; e Ele é
feito em nós justiça inerente bem como imputada. É por Cristo que temos a redenção,
ou a verdadeira libertação de toda miséria, e a concessão de toda felicidade e
glória. Assim, temos todo nosso bem por Cristo, que é Deus.
Em segundo lugar,
outro exemplo em que nossa dependência de Deus para todo nosso bem se evidencia
é nisto: foi Ele que nos deu Cristo, para que, através dele, tivéssemos estes
benefícios: “se nos tornou, da
parte de Deus, sabedoria, e justiça,” etc.
Em terceiro lugar,
é por Ele que estamos em Cristo Jesus, e viemos a ter interesse nele, e assim
recebemos aquelas bênçãos que se tornou para nós. É Deus quem nos dá a fé pela
qual nos firmamos em Cristo.
De modo que, neste versículo,
está demonstrada nossa dependência de cada pessoa da Trindade para todo nosso
bem. Somos dependentes de Cristo, o Filho de Deus, já que ele é nossa
sabedoria, justiça, santificação e redenção. Somos dependentes do Pai, que nos
deu Cristo, e o tornou essas coisas para nós. Somos dependentes do Espírito
Santo, pois é por Ele que estamos em Cristo Jesus; é o Espírito de
Deus que nos dá a fé nele, pela qual o recebemos e nos aproximamos dele.
Doutrina
Deus é glorificado na obra da redenção pelo fato de que nela se
evidencia uma dependência completamente absoluta e universal do redimido nele.
Aqui me proponho a
mostrar, primeiro, que há uma absoluta e universal dependência do
redimido em Deus para todo o seu bem. E, segundo, que Deus é dessa
maneira exaltado e glorificado na obra da redenção.
I. Há uma absoluta e
universal dependência do redimido em Deus.
A natureza e disposição de
nossa redenção é tal que os redimidos são em tudo direta, imediata e
inteiramente dependentes de Deus: são dependentes dele para tudo, e o são em
todos os aspectos.
As diversas formas em que a
dependência de um ser em relação a outro, para o seu bem, e em que o redimido
de Jesus Cristo depende de Deus para todo seu bem, são as seguintes: têm todo
seu bem por ele, e têm tudo através dele, e têm tudo nele. Ele é a causa e origem de onde todo bem procede:
logo, procede dele; Ele é o meio pelo
qual é esse bem é obtido e comunicado; assim, têm tudo através dele; e ele é o próprio
bem, dado e concedido; portanto, é nele.
Ora, todos os que são redimidos por Jesus Cristo, nesses aspectos, dependem
muito direta e inteiramente de Deus para tudo.
Primeiramente, o redimido tem
todo o seu bem procedente de Deus.
Ele é o seu grande autor. É sua causa primeira, e não
apenas isto, mas é a única causa própria. É por Deus que temos
nosso Redentor. Foi Ele que nos forneceu um Salvador. Jesus Cristo é não apenas
de Deus em sua pessoa, como o seu Filho Unigênito, mas ele procede de Deus, no
que nos diz respeito, e em Seu ofício de Mediador. Ele é o dom de Deus para
nós: Deus o escolheu e ungiu, apontou-lhe sua obra, e o enviou ao mundo. E
assim como é Deus quem dá, também é Deus quem aceita o
Salvador. Ele dá o adquiridor e fornece a coisa a ser adquirida.
É por Deus que Cristo se
torna nosso, que somos aproximados e unidos a Ele. É de Deus que recebemos a fé
para nos aproximarmos dele, para que possamos ter interesse nele. Ef 2:8: “Porque pela graça sois
salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus.” É de Deus que
verdadeiramente recebemos todos os benefícios que Cristo adquiriu. É Deus que
perdoa e justifica, e liberta do inferno; e em seu favor os redimidos são
recebidos, quando justificados. Portanto, é Deus que liberta do domínio do
pecado, nos limpa de nossas imundícies, e nos tira de nosso estado de
deformidade. É de Deus que os redimidos recebem toda sua verdadeira excelência,
virtude e santidade, e isso de duas maneiras, isto é, uma vez que o Espírito
Santo, pelo qual estas coisas são imediatamente realizadas, é de Deus, procede
dEle, e é enviado por Ele; e também como o Espírito Santo é ele mesmo Deus, por
cuja operação e habitação interior as coisas divinas, uma santa disposição e
toda graça, são conferidas e sustentadas. E, embora sejam feitos usos de meios
ao conferir a graça às almas dos homens, ainda assim é de Deus que temos esses
meios de graça, e é Ele quem os torna eficazes. É de Deus que temos as Santas
Escrituras; elas são a sua Palavra. É de Deus que temos as ordenanças, e sua
eficácia depende da influência imediata do seu Espírito. Os ministros do
evangelho são enviados de Deus, e toda sua suficiência procede dele. 2 Co 4:7: “Temos, porém, este
tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de
nós.” Seu sucesso depende inteira e absolutamente da benção e influência
imediata de Deus.
1. Tudo que o redimido possui
provém da graça de Deus. Foi por mera graça que Deus nos deu
seu Filho unigênito. A graça é maior em proporção à excelência do que é dado. A
dádiva foi infinitamente preciosa, porque consistiu em uma pessoa infinitamente
digna, de glória infinita; e também porque foi de alguém infinitamente próximo
e querido de Deus. A graça é grande em proporção ao benefício que nos é
concedido nela. O benefício é, sem dúvida, infinito, uma vez que nele somos
libertos de uma miséria infinita, pois é eterna, e também recebemos alegria e glória
eternas. A graça em conceder este dom é grande em proporção ao nosso
desmerecimento pelo que é dado; ao invés de merecer tal dádiva, merecíamos
eterno sofrimento das mãos de Deus. A graça é grande de acordo com a maneira do
dar, ou em proporção à humilhação e preço do método e meios pelos quais um
caminho é construído para termos o dom. Ele o deu para habitar entre nós; para
se encarnar, em nossa natureza; e à nossa semelhança, embora sem as
enfermidades do pecado. Ele nos foi dado em um estado humilde e aflito; e não
apenas isso, mas como morto, para que fosse uma festa para nossas almas.
A graça de Deus ao dar este
dom é livre. Deus não tinha obrigação de o conceder. Ele poderia ter rejeitado
os homens caídos, como fizera com os anjos que pecaram. Nunca fizemos qualquer
coisa para o merecer; foi dado enquanto ainda éramos inimigos, e antes que
houvéssemos nos arrependido. Procedeu do amor de Deus, que não viu em nós
excelência alguma para atraí-lo; e foi sem expectativa de jamais receber algo
em troca por isso. É por mera graça que os benefícios de Cristo são aplicados a
tais e tais pessoas em particular. Aqueles que são chamados e santificados
devem atribuí-lo somente ao beneplácito da bondade de Deus, pela qual são
destacados [dos demais]. Ele é soberano, e tem misericórdia de quem tem
misericórdia.
O homem tem agora uma
dependência ainda maior da graça de Deus do que tinha antes da queda. Ele
depende da livre benevolência de Deus para muito mais do que então. Naquela
época, dependia da bondade de Deus em conferir a recompensa da obediência
perfeita, pois Deus não estava obrigado a prometer e conceder essa recompensa.
Mas agora, somos dependentes da graça de Deus para muito mais; necessitamos
dela não apenas para nos conceder a glória, mas para nos libertar do inferno e
da ira eterna. No primeiro pacto, dependíamos da bondade de Deus para nos dar a
recompensa da justiça; e isso ainda acontece hoje. Mas, precisamos da livre e
soberana graça de Deus para nos dar aquela justiça, perdoar nossos pecados, e
nos livrar da culpa e do seu desfavor infinito.
E como somos mais dependentes
da benevolência de Deus agora do que no primeiro pacto, assim somos dependentes
de uma benevolência muito maior, mais livre e maravilhosa. Somos agora
dependentes da boa vontade arbitrária e soberana de Deus. Éramos, no nosso
primeiro estado, dependentes de Deus para a nossa santidade. Tínhamos nossa
justiça original a partir dele; mas, então, a santidade não era concedida desse
modo soberano e desobrigado como o é agora. O homem foi criado santo, pois
aprouve a Deus criar santas todas as suas criaturas racionais. Seria uma
depreciação da santidade da natureza de Deus se houvesse feito uma criatura
inteligente impura. Mas agora, quando o homem caído é santificado, é por mera e
livre graça; Deus pode negar para sempre a santidade às criaturas caídas, se
isto lhe agradar, sem qualquer prejuízo de nenhuma de suas perfeições.
E somos, na verdade, não
apenas mais dependentes da graça de Deus, mas nossa dependência é muito mais
óbvia, porque nossa própria insuficiência e desamparo são muito mais evidentes
em nosso estado caído e afundado, do que era antes que fôssemos pecadores ou
miseráveis. Somos mais claramente dependentes de Deus para a santidade, porque
somos primeiramente pecadores, e inteiramente poluídos, e depois santos. Assim
a produção do efeito é sensível, e sua procedência de Deus é mais óbvia. Se o
homem fosse sempre santo, e se se preservasse nesse estado, não seria tão
evidente que ele não tinha santidade necessariamente, como uma qualificação
inseparável da natureza humana. Assim, somos mais claramente dependentes da
livre graça, pelo favor de Deus, pois somos primeiramente os objetos de seu
desfavor, e depois somos recebidos no seu favor. Somos mais claramente dependentes
dele para a nossa felicidade, sendo primeiramente miseráveis, depois felizes. É
mais claramente livre e sem méritos em nós, porque, na verdade, estamos
desprovidos de qualquer tipo de excelência ou mérito, se é que existe tal coisa
como mérito na excelência de criaturas. E somos não apenas desprovidos de
qualquer verdadeira excelência, mas cheios e completamente corrompidos com
aquilo que é infinitamente odioso. Todo nosso bem procede mais claramente de
Deus, porque estamos primeiramente nus e completamente desprovidos de quaisquer
benefícios, para, posteriormente, sermos enriquecidos com todo bem.
2. Recebemos tudo pelo poder de
Deus. A redenção humana é frequentemente descrita como uma obra de maravilhoso
poder, assim como de graça. O grande poder de Deus se evidencia ao trazer um
pecador de seu estado rebaixado, das profundezas do pecado e da miséria, a um
exaltado estado de santidade e felicidade.
Ef 1:19: “e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos,
segundo a eficácia da força do seu poder.”
Somos dependentes do poder de
Deus em cada passo de nossa redenção. Dependemos do Seu poder para nos
converter, e nos dar a fé em Jesus Cristo, e a nova natureza. É uma obra de
criação: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura.” 2 Co 5:17. “Criados em Cristo Jesus.”
Ef 2:10. A criatura caída não pode
alcançar a verdadeira santidade, a não ser que seja recriada. Ef 4:24: “E vos revistais do novo
homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da
verdade.” É uma ressurreição dos mortos, Cl 2:12,13: “No qual igualmente fostes ressuscitados mediante a
fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.” Sim, é uma obra de
poder mais gloriosa que uma mera criação, ou ressurreição de um corpo morto
para a vida, uma vez que o efeito alcançado é maior e mais excelente. Essa
existência santa e feliz, e a vida espiritual que é produzida na obra da
conversão, é um efeito bem maior e mais glorioso, do que a simples existência e
vida. E o estado a partir do qual a mudança é feita – uma morte no pecado, uma
total corrupção da natureza, e a profundidade de miséria – é bem mais remoto do
estado alcançado, do que a mera morte ou não existência.
Também é pelo poder de Deus
que somos preservados no estado de graça. 1
Pe 1:5: “Que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a
salvação.” Como a graça procede, a princípio, de Deus, assim procede
continuamente dele, é mantida por ele, tal como a luz na atmosfera procede
durante todo o dia do sol, tanto na aurora quanto no ocaso. Os homens são dependentes
do poder de Deus para todo exercício da graça, e para a realização desse
exercício no coração, para subjugar o pecado e a corrupção, aumentar os santos
princípios, e capacitar a geração de frutos nas boas obras. O homem é
dependente do poder divino para trazer a graça à sua perfeição, para tornar a
alma receptível, à gloriosa semelhança de Cristo, e preenchê-la com
satisfatória alegria e bênção; e por ressuscitar o corpo para vida, a tal
perfeito estado que o torna adequado a ser habitação e órgão de uma alma a ser
aperfeiçoada e bendita. Estes são os mais gloriosos efeitos do poder de Deus,
que são vistos nas sequências dos Seus atos relacionados às criaturas.
No seu primeiro estado, o
homem era dependente do poder de Deus, mas muito mais agora, quando depende
desse poder para realizar mais coisas por ele, e depende mais dos poderosos
exercícios do Seu poder. Foi devido ao poder de Deus que o homem foi
santificado no princípio: mais, muito mais notavelmente no presente, porque há
muita oposição e dificuldade no caminho. É um efeito mais glorioso do poder
santificar o que era sobremodo depravado, e o que estava debaixo do domínio do
pecado, do que conferir santidade ao que, anteriormente, nada tinha de
oposição. É uma obra mais gloriosa de poder resgatar uma alma das mãos do
diabo, e do poder das trevas, trazendo-a a um estado de salvação, do que
conferir santidade onde não havia predisposição à oposição. Lc 11:21-22: “Quando o valente, bem
armado, guarda a sua própria casa, ficam em segurança todos os seus bens.
Sobrevindo, porém, um mais valente do que ele, vence-o, tira-lhe a armadura em
que confiava e lhe divide os despojos.”
Portanto, é uma obra mais
gloriosa de poder sustentar uma alma no estado de graça e santidade, e
conduzi-la até que seja trazida à glória - quando há tanto pecado residual no
coração, fazendo resistência, e Satanás com toda sua poderosa oposição – do que
o necessário para impedir o homem de cair no princípio, quando Satanás não
tinha parte com ele. Portanto, mostramos como os redimidos são dependentes de
Deus para todo o seu bem, uma vez que tudo o que têm procede dele.
Segundo, também são dependentes de Deus para tudo, uma vez
que têm tudo através dele. Deus é tanto o meio quanto o autor
e fonte desses bens. Tudo o que temos, a sabedoria, perdão de pecados,
libertação do inferno, aceitação no favor, graça e santidade de Deus, o
verdadeiro conforto e felicidade, a vida eterna e a glória, procede de Deus
através de um Mediador. E este Mediador é Deus, em quem temos absoluta dependência,
pois, através dele, recebemos tudo. Portanto, eis aqui outro modo em que temos
nossa dependência de Deus para todo nosso bem. Deus não apenas nos dá o
Mediador, e aceita sua mediação e, pela sua graça e poder, concede as coisas a
serem adquiridas pelo Mediador; mas o próprio Mediador é Deus.
Nossas bênçãos consistem
naquilo que temos por aquisição; e esta aquisição é feita por Deus, as bênçãos
são adquiridas por ele, e ele concede o Fiador; e não apenas isto, mas Ele
próprio é o Fiador. Sim, Deus é tanto o adquiridor quanto o preço, pois Cristo,
que é Deus, adquiriu estas bênçãos por nós, ao oferecer-se a si mesmo como
preço pela nossa salvação. Adquiriu vida eterna pelo sacrifício de si mesmo. Hb 7:27: “A si mesmo se
ofereceu.” E 9:26: “se
manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o
pecado.” Na verdade, foi a pessoa humana que foi ofertada, mas esta era uma
só pessoa com a divina, portanto, o sacrifício foi de preço infinito.
Assim como temos nosso bem
através de Deus, também dependemos dele em certos aspectos que o homem, no seu
primeiro estado, não dependia. Anteriormente, o homem obteria vida eterna por
sua própria justiça; de modo que ele dependia parcialmente do que havia em si
próprio. Pois dependemos daquilo que serve de meio para o nosso bem, bem como
daquilo de onde procede o que temos. Embora a justiça da qual o homem então
dependia procedesse, de fato, de Deus, contudo, pertencia a ele, era-lhe
inerente, portanto sua dependência de Deus não era tão imediata. Mas,
agora, a justiça de que dependemos não está em nós, mas em Deus. Somos salvos
através da justiça de Cristo: Ele “tornou-se para nós justiça...”;
portanto, na profecia de Jr 23:6, é
chamado de “SENHOR, Justiça Nossa.” Essa justiça, pela qual somos justificados,
é a justiça de Cristo, é a justiça de Deus. 2 Co 5:21: “para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.”
Portanto, na redenção, não apenas temos todas as coisas de Deus, mas por e
através dele, como diz 1 Co 8:6: “todavia,
para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem
existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós
também, por ele.”
Terceiro, os redimidos têm todo o seu bem em Deus.
O que temos é não apenas dele, e através dele, mas consiste nele; ele é todo
nosso bem. O bem dos redimidos é ou objetivo ou inerente. Por bem objetivo,
refiro-me ao objeto externo, por cuja posse e gozo são felizes. O bem inerente
é aquela excelência ou prazer que está na própria alma. Com respeito a ambos, o
redimido tem todo seu bem em Deus, ou, o que dá no mesmo, o próprio Deus é todo
o seu bem.
1. Os redimidos têm todo o
seu bem objetivo em Deus. Ele próprio é o grande bem ao qual,
pela redenção, são levados a possuir e gozar. É o sumo bem, e a soma de todo
bem que Cristo adquiriu. Deus é a herança dos santos; é a porção de suas almas.
Ele é sua riqueza e tesouro, seu alimento, vida, lugar de habitação, seu
ornamento e diadema, e sua honra e glória eternas. Não têm ninguém no céu,
senão Deus. Ele é o bem maior que os redimidos recebem na morte, e com o qual
devem ressurgir no fim do mundo. O Senhor Deus é a luz da Jerusalém celestial;
e é o “rio da água da vida” que corre, e a “árvore que cresce, no
meio do paraíso de Deus.” As gloriosas excelências e beleza de Deus serão
as coisas que prenderão eternamente as mentes dos santos, e o seu amor será sua
festa eterna. Os redimidos, com efeito, irão aproveitar outras coisas: os
anjos, ou uns aos outros, mas o que aproveitarão nos anjos, ou uns nos outros,
ou em qualquer outra coisa que lhes forneça deleite e felicidade, será o que de
Deus possa ser visto nelas.
2. Os redimidos têm todo
bem inerente em Deus. O bem inerente é duplo: é ou excelência
ou prazer. Estes, os redimidos não apenas derivam de Deus, como causa, mas têm
nele. Têm excelência e alegria espiritual por um tipo de participação em Deus.
São feitos excelentes pela comunicação da excelência de Deus. Ele lhes concede
sua própria beleza, i. e., sua formosa semelhança, em suas almas. São feitos
participantes da natureza divina, ou da imagem moral de Deus (2 Pe 1:4). São santos, pois participam
na Sua santidade (Hb 12:10). Os
santos são belos e benditos pela comunicação da santidade e júbilo de Deus,
como a lua e os planetas brilham devido à luz solar. O santo tem alegria e
prazer espiritual por um tipo de efusão de Deus na alma. Nestas coisas, os
redimidos têm comunhão com Deus, pois são partícipes com ele e nele.
Os santos têm tanto
excelência quanto benção espiritual pelo dom do Espírito Santo, e pela sua
habitação interior neles. São não apenas causados pelo Espírito, mas estão nele
como fonte. O Espírito, ao se tornar habitante, é um princípio vital na alma.
Ele, agindo nela e com ela, torna-se uma fonte de verdadeira alegria e
santidade, como uma fonte de água, pelo esforço e difusão de si mesmo. Jo 4:14: “Aquele, porém, que beber
da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe
der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.” Compare com o
cap. 7:38,39: “Quem crer em mim,
como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse
com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem.” A
soma do que Cristo adquiriu para nós é essa fonte de águas referida na primeira
dessas passagens, e aqueles rios de água viva mencionados na última. E a soma
das bênçãos, que os redimidos devem receber no céu, é esse rio da água da vida
que procede do trono de Deus e do Cordeiro (Ap 22:1). O que, sem dúvidas, quer dizer o mesmo que aqueles rios
de águas vivas explicados em Jo 7:38,39,
que, alhures é chamado de “torrente das delícias de Deus.” Nisso
consiste a plenitude do bem que os santos recebem de Cristo. É por participar
do Espírito Santo que têm comunhão com Cristo em sua plenitude. Deus concedeu o
Espírito, não por medida; e recebem de sua plenitude e graça sobre graça. Esta
é a soma da herança dos santos; portanto esse pouco do Espírito Santo que os
crentes têm neste mundo, é dito ser o penhor de sua herança, 2 Co 1:22: “que também nos selou e
nos deu o penhor do Espírito em nosso coração.” E no capítulo 5:5: “Ora, foi o próprio Deus quem
nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito.” E em Ef 1:13-14: “fostes selados com o
Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da
nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.”
O Espírito Santo e as coisas
excelentes são referidos na Escritura como iguais; é como se o Espírito de
Deus, comunicado à alma, compreendesse todas as boas coisas: Mt 7:11: “quanto
mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?” Em
Lucas está registrado, em 11:13: “Quanto
mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” Esta é
a soma das bênçãos que Cristo assegurou pela sua morte, e o objeto das promessas
do evangelho. Gl 3:13-14: “Cristo
nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar
(porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em
madeiro), 14 para que a bênção de Abraão chegasse
aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito
prometido.” O Espírito de Deus é a grande promessa do Pai. Lc 24:49: “Eis que envio sobre vós a
promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais
revestidos de poder.” Portanto, ele é chamado de “Espírito da
promessa”, em Ef 1:33. Isto que
foi prometido foi recebido por Cristo, e dado em suas mãos, tão logo terminou a
obra da nossa redenção, para conceder a todos que havia redimido: “Exaltado,
pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo,
derramou isto que vedes e ouvis.” Portanto, toda a santidade e
felicidade do redimido está em Deus. Assenta-se na comunicação, habitação, e
ação do Espírito de Deus. Santidade e felicidade são seus frutos, aqui e no porvir,
porque Deus habita neles, e eles, em Deus.
Assim Deus nos deu o
Redentor, e é por ele que nosso bem é adquirido. Portanto Deus é o Redentor e o
preço; e também é a coisa adquirida. De modo que tudo que temos é de Deus, e
através dele, e nele: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as
coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!”No grego, a tradução
de para ele é a mesma de nele, (1 Co 8:6).
II. Deus é glorificado na
obra da redenção pelo fato de haver tão grande e universal dependência do
redimido nele.
1. O homem tem muito maior
ocasião e obrigação de notar e reconhecer as perfeições e a autossuficiência de
Deus. Quanto maior a dependência da criatura das perfeições de Deus, e a
preocupação que tem com elas, maior a ocasião que tem de notá-las. Quanto mais
alguém se preocupa com e depende do poder e da graça de Deus, maior a ocasião
que tem de notar esse poder e graça.
Quanto maior e mais imediata
a dependência que há da santidade divina, maior a ocasião de notá-la e
reconhecê-la. Quanto maior e mais absoluta a dependência que temos das
perfeições divinas, na medida em que pertencem às diversas pessoas da Trindade,
maior a oportunidade que temos de observar e conceder a glória divina a cada
uma delas. Aquilo com que mais nos importamos certamente é mais notável no modo
de nossa observação e reconhecimento; e este tipo de preocupação com algo, isto
é, a dependência, tende especialmente a ordenar e obrigar a atenção e
observação. Aquilo de que não dependemos tanto, facilmente negligenciamos; mas
é raro que façamos outra coisa senão nos importarmos com aquilo de que mais
dependemos. Devido à nossa grande dependência de Deus, e de suas perfeições, em
muitos aspectos, ele e sua glória são mais diretamente postos em nossa visão,
para onde quer que movamos os olhos.
Temos maior oportunidade de
reconhecer a autossuficiência de Deus quando toda nossa suficiência é
completamente dele. Temos mais oportunidade de contemplá-lo como um Bem
infinito, como fonte de todo bem. Tal dependência de Deus demonstra sua
autossuficiência. Quanto mais a dependência da criatura está em Deus, mais
aparece o esvaziamento dela de si mesma; e quanto maior o esvaziamento da
criatura, maior será a plenitude do Ser que a preenche. O fato de termos tudo
de Deus, mostra a plenitude de seu poder e graça. O termos tudo através dele,
mostra a plenitude de seu mérito e dignidade; e o termos tudo nele, demonstra
sua plenitude de beleza, amor e felicidade. E os redimidos, devido à grandeza
de sua dependência de Deus, têm não apenas maior oportunidade, mas obrigação de
contemplar e reconhecer a glória e plenitude de Deus. Como seríamos insensatos
e ingratos, se não reconhecêssemos essa suficiência e glória das quais
dependemos absoluta, imediata e totalmente!
2. Logo, está demonstrado como
é grande a glória de Deus em comparação a de suas criaturas. Sendo a criatura
desse modo tão completa e totalmente dependente de Deus, torna-se evidente que
ela nada é, e que Deus é tudo. Daí, é evidente que Ele está infinitamente acima
de nós; essa força, sabedoria e santidade de Deus, estão infinitamente acima
das nossas. Conquanto a criatura apreenda Deus como grande e glorioso, contudo,
se não for sensível à diferença que há entre ela e Deus, a ponto de ver que a
glória de Deus é grandiosa, comparada com a sua própria, não estará disposta a
dar a Deus a glória devida ao seu nome. Se a criatura se põe em qualquer
aspecto no mesmo nível que Deus, ou se exalta para competir com Ele, ainda que
possa entender que essa grande honra e profundo respeito pertencem a Deus, a
serem concedidos por aqueles que estão a grande distância dele, não estará
sensível de que este é seu dever. Quanto mais os homens se exaltam, menos
estarão dispostos a exaltar a Deus. É certo o que Deus pretende ao dispor as
coisas na redenção (se admitimos ser a Escritura a revelação da vontade de
Deus): que Ele deva aparecer na sua plenitude, e o homem vazio em si mesmo; que
Ele apareça como tudo, e o homem como nada. É o desígnio declarado de Deus que
ninguém “se glorie na sua presença”, o que implica que é seu propósito
promover sua própria glória em comparação aos outros. Quanto mais o homem “se
gloria na presença de Deus”, menos glória é atribuída a Ele.
3. Por isto ter sido assim ordenado, isto é,
que a criatura devesse ter dependência tão absoluta e universal de Deus, é
feita provisão para que Deus deva possuir toda nossa alma, e ser o objeto de
nosso exclusivo respeito. Se tivéssemos nossa dependência parcialmente em Deus,
e parcialmente em outra coisa qualquer, o respeito do homem seria dividido
entre estas diferentes coisas das quais depende. Assim seria se dependêssemos
de Deus apenas para uma parte de nosso bem, e em nós mesmos, ou em outro ser,
para a outra parte; ou se tivéssemos nosso bem apenas de Deus,
e através de outro que não fosse Deus, e em alguma outra coisa
distinta de ambos, nossos corações estariam divididos entre o bem em si, e
aquele de quem, e através de quem, nós o recebemos. Mas agora, não há mais
ocasião para isto, Deus sendo não apenas aquele de quem temos todo bem, mas
também através de quem o recebemos; sendo ele o próprio bem. De modo que, o que
quer que haja para atrair nosso respeito, a tendência ainda é direcionar tudo
para Deus; tudo se une nele como o centro.
Aplicação
1. Podemos observar aqui a
maravilhosa sabedoria de Deus na obra da redenção. Deus tornou a nulidade e
miséria humanas, seu estado rebaixado, perdido e arruinado, no qual se afundou
pela queda, uma ocasião para a maior promoção de sua própria glória para que,
como das outras maneiras, e em particular nesta, haja agora muito mais
dependência total e evidente do homem em Deus. Embora se agrade em levantar o
homem deste sombrio abismo de pecado e miséria no qual caiu, e grandemente o
exalte em excelência e honra, a um alto grau de glória e benção, contudo, a
criatura de modo algum tem algo de que se gloriar; toda a glória,
evidentemente, pertence a Deus, tudo se encontra em mera e muito absoluta e
divina dependência do Pai, Filho e Espírito Santo. E cada Pessoa da Trindade é
igualmente glorificada nesta obra: há uma dependência absoluta da criatura em
todas [as Pessoas] para tudo: tudo é do Pai, através do Filho e no Espírito
Santo. Assim, Deus aparece na obra da redenção como tudo em todos. É adequado
que seja assim, e que ninguém mais seja o Alfa e Ômega, o primeiro e o último,
o tudo e único, nesta obra.
2. Logo, as doutrinas e
sistemas de teologia que se encontram em qualquer aspecto opostos a tal
dependência absoluta e universal de Deus, minimizam a sua glória, e frustram o
projeto de nossa redenção. E são esses sistemas [teológicos] que colocam a
criatura no lugar de Deus, em quaisquer dos aspectos mencionados; que
exaltam o homem no lugar do Pai, do Filho ou do Espírito Santo, em
qualquer coisa a respeito da nossa redenção. Ainda que possam permitir que
haja uma dependência dos redimidos em Deus, negam, contudo, uma
dependência que seja tão absoluta e universal.
Concordam que haja uma
inteira dependência de Deus para algumas coisas, mas não para
outras; concordam que dependemos de Deus para a dádiva e aceitação de um
Redentor, mas negam tão absoluta dependência dele para a obtenção de um interesse no
Redentor. Concordam com uma absoluta dependência do Pai para dar seu
Filho, e do Filho na obra da redenção, mas não tão inteira dependência do
Espírito Santo para a conversão, e um estar em Cristo, e assim
ser habilitado para os seus benefícios. Concordam com uma dependência de
Deus para os meios de graça, mas não absolutamente para o
benefício e sucesso desses meios; aceitam uma dependência parcial do
poder de Deus, para obter e exercitar a santidade, mas não a mera
dependência da livre e soberana graça de Deus. Concordam com uma
dependência da graça de Deus para uma recepção em seu favor, até mesmo sem
qualquer mérito próprio, mas não como se não fossem atraídos ou movidos sem
qualquer excelência. Concordam com uma dependência parcial de Cristo, como
aquele através de quem temos vida, como aquele que adquiriu novas condições de
vida, mas ainda sustentam que a justiça através da qual temos a vida é
inerente a nós mesmos, como foi sob a primeira aliança. Agora, qualquer
sistema que seja incompatível com a nossa inteira dependência
de Deus para tudo, e de termos tudo dele, por ele e nele, é repugnante para o
propósito e substância do evangelho, e priva-o do que Deus reputa como o seu
brilho e glória.
3. Daí, podemos aprender
uma razão por que a fé é o meio pelo qual chegamos a ter um
interesse nesta redenção, pois está incluído na natureza da fé um sensível
reconhecimento da absoluta dependência de Deus
neste assunto. É muito adequado que seja exigido de todos, para que tenham
o benefício desta redenção, que devam ser sensíveis disso, e reconhecer
sua dependência de Deus nesta questão. É por este meio que Deus
planejou glorificar-se a si mesmo na redenção; e é justo que deva pelo
menos receber essa glória daqueles
que são os objetos dela, e que recebem seus benefícios. A fé é um senso do que é verdadeiro na obra da redenção, e a
alma que crê depende inteiramente de Deus para toda a salvação, em seu próprio
senso e ação. A fé rebaixa os homens e exalta Deus, pois dá toda a glória
da redenção somente a Ele. É necessário para a fé salvadora que o homem
seja esvaziado de si mesmo, esteja sensível que é “um desgraçado, miserável,
pobre, cego e nu.” A humildade é um grande ingrediente da verdadeira fé:
aquele que verdadeiramente recebe a redenção, recebe-a como uma criança
pequena: “Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira
nenhuma entrará nele.” (Mc 10:15)
É o deleite de uma alma piedosa humilhar-se e exaltar somente a Deus. A
sua linguagem é: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá
glória.” (Sl 115:1)
4. Sejamos exortados a
exaltar Deus somente, e atribuir a Ele toda a glória da
redenção. Esforcemo-nos para obter e aumentar o nosso senso da grande
dependência que temos de Deus, ter o nosso olhar somente nele, a mortificar a
disposição para a autossuficiência e justiça própria. O homem é por natureza
grandemente propenso a se exaltar, e depender de seu próprio poder ou bondade;
como se, de si mesmo, ele devesse esperar a felicidade. Ele é propenso a
ter respeito pelos prazeres estranhos a Deus e seu Espírito, como se neles
a felicidade pudesse ser alcançada.
Mas esta doutrina deve nos ensinar a
exaltar somente a Deus: e, pela confiança e dependência,
louvá-lo. Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. Alguém
tem alguma esperança de ser convertido, e santificado, e de que sua
mente seja dotada de verdadeira excelência e beleza espiritual? Que
seus pecados estão perdoados, e que recebeu o favor de Deus, e foi
exaltado para a honra e benção de ser seu filho, e herdeiro da vida
eterna? Que ele, então, dê a Deus toda a glória, que, sozinho, faz com que
seja diferente do pior dos homens neste mundo, ou do mais miserável dos
condenados no inferno. Acaso alguém tem muito conforto e forte esperança de
vida eterna? Que a sua esperança não o exalte, mas o disponha para
humilhar-se ainda mais, para refletir sobre a própria excessiva indignidade de
tal favor, e exaltar somente a Deus. Acaso algum homem é eminente em santidade,
e abundante em boas obras? Que ele não leve nada dessa glória para si mesmo,
mas a atribua àquele cuja “obra somos, criados em Cristo Jesus para boas
obras.”
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