Atos 16. 29,30
“Então, o carcereiro, tendo pedido uma luz, entrou
precipitadamente e, trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas. Depois,
trazendo-os para fora, disse: Senhores, que devo fazer para que seja salvo?”
Temos aqui e no contexto um relato da conversão do
carcereiro, que é uma das mais notáveis nas Escrituras. Ele, anteriormente,
parece não apenas ter estado completamente insensível às coisas da religião,
mas ter sido um perseguidor, tendo perseguido estes mesmos homens, Paulo e
Silas, embora agora venha a eles de forma tão urgente, perguntando-lhes o que
devia fazer para ser salvo. Lemos no contexto que todos os magistrados e
multidões da cidade juntaram-se a uma em um tumulto contra Paulo e Silas, arrebatando-os,
e lançando-os na prisão, encarregando o carcereiro da sua guarda. Imediatamente
ele os lançou na prisão interior, e prendeu seus pés ao tronco. E é provável
que não tenha agido assim meramente como um servo ou instrumento dos magistrados,
mas que tenha se juntado com o resto do povo na sua fúria contra os apóstolos,
e que fez o que fez induzido por sua própria vontade, bem como pelas ordens dos
magistrados, o que o fez executar suas ordens com tal rigor.
Mas quando, à meia noite, Paulo e Silas oravam e
cantavam louvores, repentinamente houve um grande terremoto, e Deus abriu de
forma tão maravilhosa as portas da prisão, e todas as cadeias foram afrouxadas,
o carcereiro ficou extremamente aterrorizado, e, em uma espécie de desespero,
estava prestes a se matar. Mas Paulo e Silas gritaram para ele: “Não te faças mal algum, pois estamos todos
aqui”. Então, pediu uma luz, e saltou dentro [ARC], como temos o relato no
texto. Podemos observar:
1. O objeto de
sua preocupação. Ele está ansioso acerca de sua salvação: está aterrorizado
por sua culpa, especialmente por sua culpa no maltrato destes ministros de Cristo.
Está preocupado em escapar desse estado de culpa, o estado miserável que se
encontrava devido ao pecado.
2. O senso que tem do horror do seu estado atual.
Isto ele manifesta de diversas maneiras:
1. Por sua grande pressa em escapar
desse estado. Por seu afã em inquirir o que deve fazer. Ele parece estar tolhido
pela mais premente preocupação, sensível à sua presente necessidade de
libertação, sem qualquer adiamento. Antes, estava quieto e seguro em seu estado
natural; mas agora seus olhos foram abertos, está na mais urgente pressa. Se a casa estivesse em
chamas sobre sua cabeça, não poderia ter sido mais diligente, ou estar mais
apressado. Se apenas tivesse andado, poderia logo ter chegado a Paulo e Silas,
para perguntar-lhes o que devia fazer. Mas estava em grande pressa para andar
apenas, ou correr, pois saltou [ARC]; pulou para o lugar em que estavam. Ele
fugia da ira. Fugia do fogo da justiça divina, e por isso apressava-se, como
alguém que foge pela sua vida.
2. Pelo seu comportamento e gesto
diante de Paulo e Silas. Ele se prostrou. Que tenha se prostrado diante
daqueles a quem havia perseguido, e atirado à prisão interior, e prendido os
pés ao tronco, mostra qual era o estado de sua mente. Mostra alguma grande
perturbação, que o alterou de tal maneira que o levou a isto. Estava, por assim
dizer, despedaçado pela perturbação de sua mente, em um senso do horror de sua
condição.
3. Sua maneira urgente de inquiri-los acerca
do que devia fazer para escapar desta condição miserável: “Senhores, que devo fazer para ser salvo?” Estava tão perturbado,
que foi levado a se dispor a qualquer coisa; ter a salvação em qualquer termo,
e por qualquer meio, mesmo que difícil; foi levado, por assim dizer, a escrever
uma fórmula, e entregá-la a Deus, para que Ele prescrevesse seus próprios
termos.
DOUTRINA
Os que estão em um estado natural, estão em uma
condição terrível.
Isto me esforçarei para provar por uma consideração
particular do estado e condição das pessoas não regeneradas.
I. Quanto a seu estado atual neste
mundo.
II. Quanto as suas relações com o mundo
futuro.
I. A condição daqueles que não são
convertidos é terrível no mundo presente.
Primeiro. Devido ao estado depravado de suas naturezas. Os
homens, quando vêm ao mundo, têm naturezas terrivelmente depravadas. O homem,
em seu estado primitivo, era uma peça nobre de habilidade divina; mas, pela
queda, está horrivelmente desfigurado. É triste pensar que uma criatura tão excelente
deva estar tão arruinada. O horror desta condição, na qual se encontram os não
convertidos neste respeito, prova-se pelo seguinte:
1.
O horror de sua depravação evidencia-se pelo fato de serem tão insensivelmente
cegos e ignorantes. Deus deu ao homem a faculdade da razão e do entendimento, que
é uma nobre faculdade. Por ela, ele se diferencia de todas as outras criaturas
inferiores. É exaltado em sua natureza acima delas, e é, neste aspecto,
semelhante aos anjos, capacitado a conhecer a Deus, e conhecer as coisas
eternas e espirituais. Deus lhe deu entendimento para este fim, para que O
pudesse conhecer, e conhecer as coisas celestiais, e o fez capaz de
compreendê-las como quaisquer outras. Mas o homem degradou a si mesmo, e perdeu
sua glória neste respeito. Tornou-se ignorante da excelência de Deus à maneira
das próprias feras. Seu entendimento está cheio de obscuridade; sua mente está
cega; está completamente cego para as coisas espirituais. Os homens são
ignorantes de Deus, e ignorantes de Cristo, ignorantes do caminho da salvação,
ignorantes de sua própria felicidade, cegos em meio a mais brilhante e clara
luz, ignorantes sob todas as formas de instrução. Rm 3. 17: “Desconheceram o caminho da paz.” Is 27. 11: “Não é povo de entendimento.” Jr. 4. 22: “O meu povo está louco, já não me conhece; são filhos
néscios e não inteligentes.” Sl 95. 10, 11: “É povo de coração transviado,
não conhece os meus caminhos. Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu
descanso.” 1 Co 15.
34: “Alguns ainda não têm conhecimento de Deus; isto
digo para vergonha vossa.”
Há um espírito de ateísmo prevalecendo nos corações dos
homens; uma estranha disposição para duvidar da própria existência de Deus, e
do outro mundo, e de qualquer coisa que não possa ser vista com os olhos
físicos. Sl 14. 1: “Diz o insensato no seu coração,
não há Deus.” Não percebem que Deus os vê, quando pecam, e os chamará a prestar contas
por isso. E, portanto, se podem esconder os pecados dos olhos dos homens, não
se preocupam, e são ousados em cometê-los. Sl 94. 7-9: “E dizem: O SENHOR não o verá; nem para isso atentará o
Deus de Jacó. Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, loucos, quando sereis
sábios? Aquele que fez o ouvido, não ouvirá? E o que formou o olho, não verá? [ARC]” Sl 73. 11: “E diz: Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no
Altíssimo?” São tão
insensivelmente incrédulos das coisas futuras, do céu e do inferno, que
comumente preferem correr o risco da condenação a ser convencidos. São
estupidamente insensíveis da importância das coisas eternas. Como é difícil
levá-los à fé, e dar-lhes real convicção de que ser feliz por toda a eternidade
é melhor que todos os outros bens; e ser miserável por toda eternidade, debaixo
da ira de Deus, é pior que todo mal. Os homens mostram-se insensíveis o
suficiente nas coisas temporais, mas muito mais nas espirituais. Lc 12. 56: “Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do
céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época?” São muito engenhosos para o
mal; mas rudes naquelas coisas que mais os importam. Jr
4. 22: “São sábios para o mal e não sabem
fazer o bem.” Os ímpios se mostram mais tolos e insensíveis para o que lhes é melhor,
do que os brutos. Is 1. 3: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua
manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende.” Jr
8. 7: “Até a cegonha no céu conhece
as suas estações; a rola, a andorinha e o grou observam o tempo da sua
arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do SENHOR.”
2. Não há bem algum neles. Rm 7. 18: “Em mim, isto
é, na minha carne, não habita bem algum.” Não há neles nenhum princípio que os disponha a
qualquer coisa boa. Os não convertidos não têm princípio mais elevado em seus
corações do que o amor-próprio. E nisso não excedem os demônios. Estes amam a
si mesmos, e sua própria felicidade, e temem sua própria miséria. E não vão
mais longe. Seriam tão religiosos quanto os melhores dos não convertidos, se
estivessem nas mesmas circunstâncias. Seriam tão moralistas, e orariam com o
mesmo fervor a Deus, e sofreriam o mesmo tanto pela salvação, se houvesse
oportunidades semelhantes. E, assim como não há bom princípio nos corações dos
não convertidos, também nunca há quaisquer bons exercícios do coração, nunca um
bom pensamento, ou mover de coração neles. Particularmente, neles não há amor
por Deus. Jamais tiveram o mínimo grau de amor pelo Ser infinitamente glorioso.
Jamais tiveram o mínimo respeito verdadeiro pelo Ser que os criou, e em cujas
mãos está sua respiração, e de quem procedem todas as suas misericórdias.
Conquanto, às vezes, possam parecer fazer coisas por respeito a Deus, e vistam
o rosto como se O honrassem, e altamente O estimassem, tudo não passa de
hipocrisia. Mesmo que haja um exterior limpo, são como sepulcros caiados; por
dentro não há nada senão putrefação e podridão. Não têm amor por Cristo, o
glorioso Filho de Deus, que é tão digno de seu amor, e que mostrou graça tão
maravilhosa pelos pecadores ao morrer por eles. Jamais fizeram qualquer coisa
por respeito verdadeiro ao Redentor do mundo, desde que nasceram. Jamais
produziram quaisquer frutos a esse Deus que os criou, e em quem vivem, movem-se
e tem seu ser. Jamais responderam de alguma forma ao fim para o qual foram
criados. Têm, até agora, vivido completamente em vão, e sem nenhum propósito.
Jamais obedeceram com sinceridade a um mandamento de Deus; nunca moveram um
dedo motivados por um espírito verdadeiro de obediência a Ele, que os fez para
servi-Lo. E quando pareceram, externamente, concordar com os mandamentos de
Deus, seus corações não o fizeram. Jamais obedeceram movidos por um espírito de
sujeição a Deus, ou por qualquer disposição em obedecê-lo, mas meramente foram
a isso levados pelo medo, ou de alguma forma influenciados por seus interesses
mundanos. Jamais deram a Deus a honra de nenhum de Seus atributos. Nunca Lhe
deram a honra de Sua autoridade, obedecendo-Lhe. Jamais Lhe deram a honra por Sua
soberania, submetendo-se a Ele. Jamais Lhe deram a honra de Sua santidade e
misericórdia, amando-O. Nunca Lhe deram a honra por Sua suficiência e
fidelidade, confiando Nele; mas olharam para Deus como Alguém indigno de ser
crido e confiado, e o trataram como se fosse um mentiroso. 1 Jo 5. 10: “Aquele que não dá crédito a Deus o
faz mentiroso.” Eles
jamais agradeceram de coração a Deus por uma simples misericórdia recebida em
toda sua vida, embora Ele os tenha sustentado, e tenham vivido debaixo de Sua
liberalidade. Jamais agradeceram genuinamente a Cristo por ter vindo ao mundo,
e morrido para lhes dar a oportunidade de serem salvos. Jamais lhe mostrariam alguma
gratidão a ponto de recebê-lo, quando bateu em suas portas; mas sempre lha
fecharam, embora tenha batido sem nenhum outro propósito senão o de oferecer-se
para ser seu Salvador. Jamais tiveram qualquer desejo verdadeiro por Deus ou
Cristo em toda a sua vida. Quando Deus se ofereceu para ser sua porção, e
Cristo, para ser o amigo de suas almas, não os desejaram. Jamais quiseram ter
Deus e Cristo como sua porção. Prefeririam, ao contrário, estar sem eles, se
pudessem evitar o inferno sem Sua companhia. Jamais tiveram um pensamento
honroso sobre Deus. Sempre estimaram as coisas terrenas antes dEle. E, apesar
de tudo o que ouviram nos mandamentos de Deus e de Cristo, sempre preferiram um
pequeno ganho mundano ou um prazer pecaminoso a eles.
Te parabenizo meu querido por se dedicar a postar sermões de Jonathan Edwards, sei que é trabalhoso, mas te agradeço!
ResponderExcluirEu gostaria muito de ter acesso a mais sermões de Jonathan Edwards, de conhecê-lo profundamente, conhecer a obra dele.
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