sexta-feira, 26 de junho de 2015

TENTAÇÃO E LIVRAMENTO - PARTE 1


A GRANDE TENTAÇÃO DE JOSÉ E SEU GRACIOSO LIVRAMENTO

Ele, porém, deixando as vestes nas mãos dela, saiu, fugindo para fora. (Gn 39. 12b)

Temos aqui, e no contexto, um relato do notável procedimento de José na casa de Potifar, que foi motivo tanto de sua grande aflição quanto de seu alto progresso e prosperidade na terra do Egito.
Lemos, no início do capítulo, como José, após ter sido cruelmente tratado por seus irmãos, e vendido ao Egito como um escravo, prosperou na casa de Potifar, que o havia comprado. José temia a Deus, portanto, Deus estava com ele, a ponto de influenciar o coração de seu senhor, que, ao invés de mantê-lo como um mero escravo, conforme o propósito original de sua compra, o fez seu mordomo e superintendente de toda a sua casa. Tudo o que tinha pôs em suas mãos, de tal maneira que somos informados no v. 6: “Potifar tudo o que tinha confiou às mãos de José, de maneira que, tendo-o por mordomo, de nada sabia, além do pão com que se alimentava.
Enquanto José estava nestas prósperas circunstâncias, encontrou-se em meio a grande tentação na casa de seu senhor. Lemos que, sendo um rapaz bonito de porte e de aparência, sua senhora pôs nele os olhos e o desejou, e usou toda sua arte para tentá-lo a cometer impureza com ela.
Com relação a essa tentação, e ao procedimento de José nela, muitas coisas são dignas de nota, particularmente:
Podemos observar como foi grande a tentação na qual esteve José. Deve ser levado em conta que ele estava, naquele momento, em sua juventude, uma época da vida em que as pessoas estão mais sujeitas a ser vencidas por tentações dessa natureza. E encontrava-se em um estado de inesperada prosperidade na casa de Potifar, o que tem a tendência de envaidecer as pessoas, especialmente as jovens, pelo que é comum que mais facilmente caiam diante das tentações.
Ademais, a superioridade da pessoa que deu ocasião à sua tentação a tornou ainda maior. Era sua patroa, e ele um servo dela. E também a maneira dela o tentar, pois não apenas se insinuava para ele, para fazê-lo suspeitar que poderia ser admitido a um relacionamento proibido com ela, mas diretamente lhe fazia propostas, manifestando-lhe claramente sua disposição. Assim, não havia aqui algo como uma suspeita da disposição da parte dela para o encorajar, mas uma manifestação de seu desejo para atiçá-lo. De fato, ela parecia bastante engajada na matéria. E não havia apenas seu desejo manifesto de provocá-lo, mas sua autoridade sobre ele para reforçar a tentação. Era sua patroa, e ele bem podia imaginar que, se recusasse totalmente se submeter, incorreria no seu desfavor, e ela, sendo a mulher do seu senhor, tinha poder para trabalhar em seu prejuízo, e tornar sua situação muito desconfortável na família.
E a tentação foi maior, pois ela não apenas o tentou uma vez, mas frequentemente, todos os dias (v. 10). Por fim, se tornou mais violenta com ele. Pegou-o pelas vestes, dizendo: Deita-te comigo.
A postura de José foi muito notável nessas tentações. Recusou, em absoluto, qualquer comprometimento. Não deu qualquer resposta que manifestasse que a tentação o houvesse vencido. Menos ainda hesitou ou deliberou quanto a ela. Não cedeu em nenhum grau, quer ao ato grosseiro que ela propunha, quer a algo que tendesse para ele, ou que pudesse de alguma maneira satisfazê-la em suas ímpias inclinações. E persistiu resoluto e inabalável sob as contínuas solicitações da mulher: “Falando ela a José todos os dias, e não lhe dando ele ouvidos, para se deitar com ela e estar com ela.” (v. 10) Ele evitou ao máximo até mesmo estar onde ela estava. E os motivos e princípios baseados nos quais agiu, e que foram manifestos pela sua resposta às solicitações da mulher, são notáveis.
Primeiramente, mostra-lhe como seria injurioso se agisse contra o seu senhor, se aquiescesse a sua proposta: “Tem-me por mordomo o meu senhor e não sabe do que há em casa, pois tudo o que tem me passou ele às minhas mãos. Ele não é maior do que eu nesta casa e nenhuma coisa me vedou, senão a ti, porque és sua mulher.” (Gn 39.8,9). Então, prossegue para informá-la do que, acima de tudo, o impedia de comprometer-se, isto é, que seria grande impiedade e pecado contra Deus: “Como, pois, cometeria eu tamanha maldade e pecaria contra Deus?” Isso ele não faria de forma alguma, assim como não prejudicaria seu senhor. Mas, o que acima de tudo o influenciava nessa ocasião era o temor de pecar contra Deus. Por este motivo, persistiu em sua resolução até o fim.
No texto, temos um relato do seu comportamento na última e maior tentação da parte dela. Foi uma grande tentação, uma vez que ocorreu em um momento em que não havia ninguém na casa, exceto ele e sua patroa (v. 11). Houve uma oportunidade para cometer o fato no maior segredo. E, nesse momento, parece que ela foi ainda mais violenta que antes, pois o pegou pelas vestes, apossou-se dele, como se estivesse resoluta em atingir seu propósito.
Nessas circunstâncias, ele não apenas a recusou como fugiu dela, como teria feito se fosse alguém disposto a assassiná-lo. Fugiu como se fosse por sua vida. Ele assegurou-se não apenas de não se tornar culpado do fato, mas também de, por todos os modos, escapar da casa dela, onde estaria no caminho de sua tentação. Este comportamento de José está, sem dúvida, registrado para a instrução de todos nós. Portanto, das palavras ditas, observarei que é nosso dever não apenas evitar aquelas coisas que são em si pecaminosas, mas também, até onde for possível, aquelas que levam e expõem ao pecado.

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