SEÇÃO I
Por que devemos evitar as coisas
que tendem ao pecado
Assim fez José, não apenas se recusou a realmente cometer
impureza com sua patroa, que o provocara, mas se recusou a ficar lá, onde
pudesse estar no caminho da tentação (v. 10). Recusou-se a estar com ela e a
permanecer ali. E, no texto, lemos que “saiu, fugindo para fora.”
(v. 12) Não ficaria de maneira nenhuma em sua companhia. Não seria pecado se José
permanecesse na casa onde sua patroa estava, mas, nestas circunstâncias, isso o
exporia ao pecado. Ele tinha consciência que tinha um coração corrupto, que
tendia a traí-lo ao pecado; portanto, de maneira nenhuma ficaria no caminho da
tentação, mas apressadamente fugiria, correria do lugar do perigo. Uma vez que
estava exposto ao pecado nessa casa, fugiu dela com tanta pressa quanto teria
se ela estivesse em chamas, ou repleta de inimigos com espadas afiadas para
estocá-lo no coração. Quando ela o tomou pelas vestes, ele as deixou em suas
mãos; preferiu perdê-las a permanecer um só momento lá, onde estaria em tamanho
perigo de perder sua castidade.
Eu disse que as pessoas devem evitar as coisas que expõem ao
pecado até onde for possível, porque
é possível que as pessoas sejam chamadas
a se expor à tentação. Quando isso ocorrer, podem esperar por fortalecimento e
proteção divinas na tentação.
Pode ser o dever indispensável de um homem exercer um ofício
ou trabalho acompanhado com uma grande quantidade de tentação. Assim, ordinariamente um homem não deveria correr
para a tentação de ser perseguido pela causa da verdadeira religião, para que a
tentação não lhe seja dura demais. Mas deve evitá-la, tanto quanto puder. Desse
modo Cristo ordena a seus discípulos: “Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para
outra.” (Mt 10.23)
Contudo, pode ser o caso que um homem não foi chamado para
fugir da perseguição, mas sofrer o risco de tal provação, confiando em Deus
para sustentá-lo nela. Ministros e magistrados podem ser obrigados a continuar
com seu povo em tais circunstâncias, como diz Neemias: “Homem como eu fugiria?” (Nm 6.11) Da mesma maneira ocorreu com os apóstolos. Podem
até mesmo ser chamados para ir ao meio dela, àqueles lugares onde não podem sensatamente
esperar outra coisa senão encontrar-se com essas tentações. Assim Paulo subiu a
Jerusalém, onde sabia de antemão que “me esperam cadeias e tribulações.” (At 20.23)
Da mesma forma, em alguns outros casos, a necessidade do
momento pode exigir que as pessoas se comprometam em alguns negócios que são
peculiarmente acompanhados com tentações. Mas quando isso ocorre estão, na
realidade, minimamente expostas ao pecado; pois os mais seguros são os que
estão no caminho do dever: “Quem anda em integridade anda seguro.” (Pv 10.9) Embora
haja inúmeras coisas pelas quais possam ter extraordinárias tentações nos
assuntos em que se empenharem, contudo, se tiverem uma vocação clara, não é
presunção esperar o suporte e a preservação divina.
Mas expor-se desnecessariamente às tentações e fazer aquelas
coisas que tendem ao pecado é injustificável e contrário a esse exemplo
excelente diante de nós. E que deveríamos evitar não apenas aquelas coisas que
são, em si mesmas, pecaminosas, mas também as coisas que levam e expõem ao pecado, evidencia-se pelos
seguintes argumentos.
1. É muito evidente que deveríamos fazer uso de nossos
máximos esforços para evitar o pecado. Ora, isso é inconsistente com a prática
desnecessária daquelas coisas que expõem e levam ao pecado. Quanto maior é
qualquer mal, maior o cuidado e mais diligente o esforço que se requer para
evitá-lo. Nosso maior cuidado é
proporcional a nossa percepção da grandeza e terror dos males. Portanto, o
maior dos males requer o maior e mais elevado cuidado para evitá-lo.
O pecado é um mal
infinito, pois é cometido contra um Ser infinitamente grande e excelente; é,
pois, uma violação de obrigação infinita. Portanto, conquanto seja grande nosso
cuidado para evitar o pecado, não pode ser mais do que proporcional ao mal que
evitaremos. Nosso cuidado e esforço não podem ser infinitos, como é o mal do
pecado; mas, ainda assim, deveria ser até ao limite de nossa força. Deveríamos
usar cada método que tende a evitar o pecado. Isto é evidente para a razão. E
não apenas a ela, mas também é positivamente requerido de nós na palavra de
Deus: “Tende cuidado, porém, de guardar com diligência o mandamento e a lei que
Moisés, servo do SENHOR, vos ordenou: que ameis o SENHOR, vosso Deus, andeis em
todos os seus caminhos, guardeis os seus mandamentos, e vos achegueis a ele, e
o sirvais de todo o vosso coração e de toda a vossa alma.” (Js 22.5) “Guardai,
pois, cuidadosamente, a vossa alma...para que não vos corrompais.” (Dt 4.15,16)
“Guarda-te, não te
enlaces com imitá-las, após terem sido destruídas diante de ti.” (Dt 12.30) “Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer
avareza.” (Lc 12.15) “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.”
(1 Co 10.12) “Tão somente guarda-te a ti mesmo e guarda bem a tua alma.” (Dt
4.9) Estes e muitos outros textos semelhantes das Escrituras, claramente
requerem de nós a máxima diligência e cuidado possíveis para evitar o pecado.
Mas, como se pode dizer para alguém que use a máxima
diligência e cuidado possíveis para evitar o pecado, se essa pessoa
voluntariamente faz aquelas coisas que naturalmente expõem e levam ao pecado?
Como se pode dizer a alguém que com o máximo cuidado possível evite um inimigo,
se essa pessoa voluntariamente se coloca no seu caminho? Como se pode dizer a
alguém que use o máximo cuidado possível para preservar a vida de seu filho, se
essa pessoa permite que a criança vá até a beira de precipícios ou buracos; ou
brinque às margens de um grande abismo; ou passeie em uma floresta assombrada
por animais predadores?
2. É evidente que deveríamos evitar as coisas que expõem e
levam ao pecado, pois um senso devido da malignidade do pecado e um ódio justo
dele necessariamente terão este efeito sobre nós, para fazer-nos assim
proceder. Se estivéssemos devidamente sensíveis da natureza maligna e terrível
do pecado teríamos sobre nossas almas enorme horror a ele. Devemos odiá-lo mais
do que a morte, e temê-lo mais do que o próprio diabo, e receá-lo assim como
receamos a condenação. Ora, os homens naturalmente esquivam-se das coisas que
temem; e evitam as coisas que, na sua apreensão, os deixam expostos. De modo
semelhante, uma criança que ficou grandemente horrorizada com a vista de uma
fera selvagem, de modo algum será persuadida a se aventurar em lugares onde
perceba que se colocará em seus caminhos.
Assim como o pecado em sua própria natureza é infinitamente
odioso, também em sua tendência natural é infinitamente terrível. É a tendência
de todo pecado arruinar eternamente a alma. Todo pecado, por natureza, carrega
consigo o inferno! Portanto, todo pecado deveria ser tratado por nós como
trataríamos uma coisa que seja infinitamente terrível. Se o pecado de alguém,
mesmo o menor dos pecados, não traz necessariamente consigo a ruína eterna,
isso se deve tão somente à livre graça e misericórdia de Deus para conosco, e
não à natureza e tendência do pecado em si.
Mas certamente não deveríamos tomar menos cuidado em evitar
o pecado, ou tudo aquilo que leva a ele, por causa da liberalidade e grandeza
da misericórdia de Deus por nós, pela qual há esperança de perdão. Isso seria,
de fato, um abuso muito ingrato e vil da misericórdia. Fosse-nos dado a
conhecer que, se alguma vez voluntariamente cometêssemos qualquer ato
particular de pecado, seríamos condenados sem qualquer remédio ou escape, não
seríamos extremamente temerosos de cometê-lo? Não seríamos muito vigilantes e
cuidadosos em permanecer a maior distância desse pecado e de qualquer coisa que
pudesse nos expor a ele, ou que tivesse alguma tendência em atiçar nossas
luxúrias, ou nos trair para cometermos esse ato de pecado? Consideremos, então,
que, embora o próximo ato voluntário de pecado conhecido não necessária e
inevitavelmente resulte em condenação
certa, contudo certamente a merece.
Por ele merecemos, de fato, ser rejeitados, sem qualquer remédio ou esperança;
e é apenas devido à livre graça que esse pecado não é certa e irremediavelmente
seguido com tal punição. E seremos culpados de abuso tão vil da misericórdia de
Deus por nós, a ponto de ela nos encorajar a mais ousadamente nos expor ao
pecado?
3. É evidente que devemos não apenas evitar o pecado, mas
também as coisas que expõem e levam a ele, pois é desta maneira que agimos
quanto às coisas que pertencem ao nosso interesse temporal.
Os homens evitam não apenas aquelas coisas que são o
desastre e a ruína de seus interesses temporais, mas também as coisas que
tendem ou expõem a isso. Porque amam suas vidas temporais, não apenas realmente
evitarão o suicídio, mas são bastante cuidadosos em evitar aquelas coisas que
trazem perigo às suas vidas, embora nem sempre saibam se é certo que possam
escapar. São cuidadosos em não atravessar rios e águas profundas sobre o gelo
derretido, embora não saibam com certeza se não cairão e se afogarão. Não
apenas evitarão aquelas coisas que seriam elas mesmas a ruína de suas
propriedades – como pôr fogo em suas casas, e queimá-la totalmente com suas
posses; pegar seu dinheiro e atirá-lo ao mar, etc. – mas cuidadosamente evitam
aquelas coisas pelas quais suas propriedades são expostas. Vigiam-nas; são
cuidadosos em escolher seus parceiros de negócios; são vigilantes que não sejam
logrados em seus negócios, e procuram não se expor a pessoas tratantes e
fraudulentas.
Se alguém estiver doente de uma enfermidade perigosa, cuida
de evitar tudo que tende a agravar a doença; não apenas aquilo que sabe ser
mortal, mas outras coisas que teme lhe possam ser prejudiciais. Os homens, por
este modo, são afeitos a cuidar de seu interesse temporal. Portanto, se não
formos tão cuidadosos em evitar o pecado, como somos em evitar o prejuízo de
nosso interesse temporal, isso evidenciará uma disposição despreocupada com
respeito ao pecado e ao dever; ou que não nos importamos tanto com o fato de
pecarmos contra Deus. A glória de Deus é certamente de tanta importância e
cuidado quanto nosso interesse temporal. É certo que deveríamos ser tão
cuidadosos em não nos expor a pecar contra a Majestade do céu e terra, quanto
os homens são propensos a cuidar de algumas poucas libras. Na verdade, estas
últimas são apenas bagatelas comparadas com a primeira.
4. Somos afeitos a proceder desse modo pelos nossos queridos
amigos terrenos.
Não somos apenas cuidadosos daquelas coisas que diretamente ameace
a destruição de suas vidas, ou o seu prejuízo e calamidade. Mas somos cuidados
em evitar as coisas que mesmo remotamente tendam a isso. Somos cuidadosos em
prevenir todas as ocasiões que lhes representem perda; somos vigilantes contra
aquilo que tende, de qualquer forma, a privá-los de seu conforto ou bom nome. E
a razão é que eles nos são muito queridos. Desta forma, os homens são afeitos a
ser cuidadosos do bom nome de seus filhos, e temem a aproximação de qualquer
dano a que receiam estejam ou possam estar expostos. E ficaríamos muito tristes
se nossos amigos não fizessem o mesmo conosco.
Certamente, deveríamos tratar Deus como um amigo querido.
Deveríamos agir com relação a ele como quem lhe tem um amor sincero e cuidado
não fingido. Assim, devemos vigiar e ser cuidadosos contra todas as ocasiões daquilo que é contrário a sua
honra e glória. Se não for nossa índole e desejo assim o fazer, isso mostrará
que, sejam quais forem nossas pretensões, não somos amigos sinceros de Deus, e
não lhe temos verdadeiro amor. Se alguém nos tratasse desta maneira e não fosse
cuidadoso de nossos interesses, ficaríamos ofendidos se esses tivessem
professado amizade a nós; então, certamente, Deus pode justamente se ofender
que não somos mais cuidadosos de sua glória.
5. Gostaríamos que Deus, em sua providência para conosco,
não ordene aquelas coisas que tendem ao nosso prejuízo, ou exponha nossos
interesses. Portanto, certamente deveríamos evitar aquelas coisas que levam ao
pecado contra ele.
Desejamos e amamos ter a providência de Deus em relação a
nós disposta de tal maneira que nosso bem estar seja assegurado. Homem algum
ama ser exposto, viver na incerteza e em circunstâncias perigosas. Enquanto
assim está, vive desconfortavelmente, pois vive em medo contínuo. Desejamos que
Deus disponha as coisas a nosso respeito de tal maneira que possamos estar
livre do temor do mal, e que mal algum se aproxime de nossas habitações; isso
porque tememos a calamidade. Não amamos a aparência e aproximação desta, mas
amamos que esteja a grande distância de nós. Desejamos que Deus nos seja como
uma muralha de fogo ao nosso redor, para nos defender; e que nos cerque como as
montanhas cercam o vale, para nos guardar de todo perigo ou inimigo, e que,
desse modo, mal algum nos alcance.
Agora, isso nos mostra claramente que deveríamos, em nossa
postura em relação a Deus, manter uma grande distância do pecado e de tudo o
que expõe a ele, assim como desejamos que Deus, em sua providência conosco,
mantenha a calamidade e a miséria a grande distância de nós, e não ordene que
estas coisas exponham nosso bem estar.
6. Visto que devemos orar que não entremos em tentação,
certamente não deveríamos nós mesmos correr para ela.
Esta é uma petição que Cristo nos orienta a fazer naquela
forma de oração que ensinou aos discípulos: “Não nos deixe cair em tentação.” Quão
inconsistentes seremos com nós mesmos se orarmos a Deus que não sejamos
conduzidos à tentação, e, ao mesmo tempo, não formos cuidadosos em evita-la,
mas nos conduzirmos a ela, fazendo aquelas coisas que levam e expõem ao pecado?
Que autocontradição é para um homem orar a Deus que seja guardado daquilo que
não toma cuidado algum em evitar! Orando que sejamos guardados da tentação,
professamos a Deus que estar em tentação é algo a ser evitado; mas, ao correr
para ela, mostramos que escolhemos o contrário, isto é, não evitá-la.
7. O apóstolo nos aconselha a evitar aquelas coisas que são
em si mesmas lícitas, mas tendem a levar os outros ao pecado. Certamente,
então, devemos evitar o que nos leva a nós mesmos ao pecado. O apóstolo
aconselha: “Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a
ser tropeço para os fracos.” (1 Co 8.9) “Tomai o propósito de não pordes
tropeço ou escândalo ao vosso irmão.” (Rm 14.13) “Se, por causa de comida, o
teu irmão se entristece, já não andas segundo o amor fraternal. Por causa da
tua comida, não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu.” (Rm 14.15)
“Não destruas a obra de Deus por causa da comida. Todas as coisas, na verdade,
são limpas, mas é mau para o homem o comer com escândalo. É bom não comer
carne, nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão venha
a tropeçar ou se ofender ou se
enfraquecer.” (Rm 14.20,21) Ora, se esta regra do apóstolo for conforme a
Palavra de Cristo, como devemos supor, ou ao contrário deveríamos expurgar o
que ele diz do cânon da Escritura, então, uma regra semelhantes obriga mais
fortemente naquelas coisas que tendem a nos levar a nós mesmos ao pecado.
8. Há muitos preceitos da Escritura que direta e
positivamente implicam que devemos evitar aquelas coisas que tendem ao pecado.
É exatamente isso que é ordenado por Cristo em Mateus 26.41,
onde nos orienta a “Vigiar e orar, para que não entremos em tentação”. Mas,
certamente, nos atirarmos à tentação é o oposto de vigiar contra ela. Somos ordenados
a nos abster de toda aparência do
mal, isto é, fazer com o pecado o mesmo que alguém faz com uma coisa cuja visão
ou aparência abomine. Portanto, evitará qualquer coisa que se assemelhe com ela,
e não se aproximará nem ficará a ela exposto.
Novamente, Cristo ordena que separemos de nós as coisas que
são pedras de tropeço, ou ocasiões para o pecado, por mais queridas que nos
sejam. “Se o teu olho direito te faz
tropeçar, arranca-o e lança-o de ti”.
(Mt 5.29) “E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e
lança-a de ti”. (Mt 5.30) Pela mão
direita que nos ofende, não quer dizer que ela nos cause dor; mas a palavra no original
significa ser uma pedra de tropeço, isto é, corta-a, se tua mão direita se
provar uma pedra de tropeço, ou ocasião para a queda, isto é, uma ocasião para
o pecado.
As coisas
que servem de ocasião para o pecado são chamadas de pedra de tropeço no Novo
Testamento. Cristo nos diz que devemos evitá-las, por mais queridas que nos
sejam, ainda que sejam tão caras quanto nossa mão ou olho direitos. Se houver
qualquer prática que naturalmente tenda e exponha ao pecado, devemos nos livrar
dela, ainda que nos seja extremamente amável, e estejamos muito relutantes em
dispensá-la. Devemos fazê-los, ainda que seja tão contrário à nossa inclinação,
como é cortar nossa própria mão direita, ou arrancar nosso olho direito, e isso
pela dor da condenação; pois nos é declarado que se não o fizermos, devemos ir
com as duas mãos e os dois olhos para o fogo do inferno.
Também Deus
teve grande cuidado em proibir aos filhos de Israel aquelas coisas que tendiam
a levar ao pecado. Por esta razão, proibiu que casassem com mulheres
estrangeiras: “Nem contrairás matrimônio com os filhos dessas
nações; não darás tuas filhas a seus filhos, nem tomarás suas filhas para teus
filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a
outros deuses; e a ira do SENHOR se acenderia contra vós outros e depressa vos
destruiria.” (Dt 7.3-4) Por essa razão, foram ordenados a destruir
todas aquelas coisas que as nações de Canaã usaram em sua idolatria, e se
alguém fosse inclinado à idolatria, deveria ser destruído sem piedade, ainda
que fosse o mais querido e próximo dos amigos. Deveriam não apenas ser
entregues, mas apedrejados; sim, eles próprios deveriam cair sobre eles e leva-los
à morte, mesmo que fosse filho ou filha, ou um amigo do peito: “Se teu irmão, filho de tua mãe, ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher do
teu amor, ou teu amigo que amas como à tua alma te incitar em segredo, dizendo:
Vamos e sirvamos a outros deuses, que não conheceste, nem tu, nem teus pais”. (Dt
3.6)
Ademais,
o sábio nos adverte a evitar aquelas coisas que tendem e expõem ao pecado,
especialmente o pecado da impureza: “Tomará alguém
fogo no seio, sem que as suas vestes se incendeiem? Ou andará alguém sobre
brasas, sem que se queimem os seus pés? Assim será com o que se chegar à mulher
do seu próximo; não ficará sem castigo todo aquele que a tocar”. (Pv
6.27,29) A verdade aqui apresentada é: evite aqueles costumes e práticas que
naturalmente tendem a provocar a luxúria.
E há
muitos exemplos na Escritura, que têm a força de preceito, registrados não
apenas por seu valor, mas para nossa imitação. A conduta de José é um desses, e
a do Rei Davi é outro: “Disse comigo mesmo: guardarei os meus caminhos, para
não pecar com a língua; porei mordaça à minha boca, enquanto estiver na minha
presença o ímpio. Emudeci em silêncio, calei acerca do bem, e a minha dor se
agravou.” (Sl 39.1,2) Até mesmo acerca do bem! Ou seja, estava tão vigilante
com suas palavras, e guardado a tal distância de falar o que pudesse de
qualquer modo levá-lo ao pecado, que evitava em certas circunstâncias, falar o
que era em si mesmo lícito; para que não fosse traído em direção àquilo que
fosse pecaminoso.
9. Um
senso prudente de nossa fraqueza e exposição para ceder à tentação nos obriga a
evitar aquilo que leva e expõe ao pecado.
Quem quer
que se conheça e esteja sensível do quão fraco é sabe como seu coração está
cheio de corrupção, esse mesmo que, como combustível, está pronto a pegar fogo
e trazer a destruição sobre si; sabe o quanto há dentro de si que o inclina ao
pecado, e como é incapaz de sustentar-se a si mesmo. Quem está sensível disso,
e tem alguma preocupação com seu dever, acaso não será bastante vigilante contra
qualquer coisa que possa levá-lo e expô-lo ao pecado? Por este motivo, Cristo nos
orienta: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação”. (Mt
26.41) A razão é acrescentada: a carne é fraca! Aquele que, confiando em sua
própria força, ousadamente aventura-se no pecado, entrando em tentação,
manifesta grande presunção e uma insensibilidade embrutecida de sua própria
fraqueza. “O que confia no seu próprio coração é insensato.” (Pv
28.26)
Os mais
sábios e mais fortes, e alguns dos mais santos homens no mundo, foram
derrubados por essas coisas. Assim foi com Davi; assim foi com Salomão: suas
mulheres perverteram seu coração. Se pessoas tão eminentes por sua santidade
quanto essas foram desse modo levadas ao pecado, certamente deve servir de
aviso para nós. “Aquele que pensa estar de pé, veja que não caia.”