CAPÍTULO 6
ESTABELECIMENTO NO MINISTÉRIO EM
NORTHAMPTON – SITUAÇÃO DAS COISAS NO TEMPO DO SEU ESTABELECIMENTO – ATENÇÃO
À RELIGIÃO NA PARÓQUIA – CURSO DE ESTUDO – HÁBITOS DE VIDA – CASAMENTO – MORTE
E CARÁTER DO SR. STODDARD – DOENÇA DO SR. EDWARDS – MORTE E CARÁTER DE SUA IRMÃ
JERUSHA – SUA PRIMEIRA PUBLICAÇÃO
No dia 15 de fevereiro de 1727, Edwards foi
ordenado ministro do evangelho e encarregado da igreja e da congregação em
Northampton, na condição de colega de seu avô, o Rev. Stoddard.
Agora ele adentrava
no projeto de sua vida, em uma profissão acompanhada de muitas
dificuldades e que apresentava um campo suficientemente amplo para o emprego
das mais altas faculdades que já foram conferidas ao homem. Não é, portanto,
impróprio nos determos por um momento e revisarmos as circunstâncias em que se
colocava.
Ele tinha 23 anos. Sua constituição física
era naturalmente tão frágil e delicada a ponto de ser preservada, mesmo em
saúde tolerável, apenas com incessante cuidado. Havia passado pelos sucessivos
períodos da infância, juventude e início da vida adulta não apenas irrepreensivelmente,
mas de tal modo que lhe assegurara a alta estima e aprovação de todos que o
conheciam. Sua piedade filial e afeição fraternal haviam sido bastante
exemplares e o haviam tornado um centro de forte atração para a família unida.
Originalmente de caráter grave e sóbrio, havia sido objeto de precoces,
frequentes e fortes impressões religiosas, as quais, se não resultaram em
conversão salvífica na infância, o tornaram escrupuloso, solene e habitualmente
diligente pelas coisas eternas. Por um período considerável, havia não apenas
sentido a vida e poder da religião, mas parecia estar imbuído de uma grande e
incomum medida da graça de Deus. Poucas pessoas da mesma idade descobrem uma
piedade tão pura, prática e pervasiva.
Ele havia se devotado aos livros ainda na
infância, espontaneamente, e desde uma idade precoce parece ter formado hábitos
de severa e bem sucedida aplicação. Sua mente, originalmente proprietária de
poderes incomuns e possuída de um intenso desejo por conhecimento, foi reconhecida
pela eminência, como já vimos, não meramente em um assunto isolado, mas em cada
campo da literatura e da ciência. Ainda que provavelmente fosse o membro mais
novo de sua classe, foi reconhecido como o seu principal erudito na
distribuição das honras. Não apenas foi reconhecido por suas realizações na
literatura latina, grega ou hebraica, mas ainda mais naqueles estudos que
requerem a aplicação das maiores forças – na matemática e lógica, na filosofia
natural e mental, e nos mais altos princípios da teologia.
Nesses assuntos, não havia simplesmente se
provado capaz de compreender as descobertas de outros, mas se aventurou onde
não havia caminho ou guia, em novas e inexploradas regiões do mundo espiritual[1], com
sucesso tal que bem poderia tê-lo lançado a destemíveis iniciativas.
Como oficiais da faculdade, as dificuldades
peculiares em que foram colocado, deram a ele e aos seus colegas uma
oportunidade para adquirirem reputação incomum, não apenas como instrutores e
líderes dos jovens, mas como homens de firmeza inabalável e integridade
irresoluta. Sua mente era agora rica em realizações; suas opiniões já eram,
para o período em que vivia, singularmente expandidas e compreensivas; e seus
poderes estavam sob total disciplina e geravam obediência precisa e
perseverante. Seus hábitos de estudo estavam completamente formados e possuíam
o caráter mais severo e inflexível.
A teologia havia sido, por anos, seu
estudo favorito. Por ela, havia deliberadamente abandonado não apenas os
variados interesses da ciência natural, mas, em certa medida, também aquelas
investigações sobre a natureza e operações da mente, pelas quais, em um período
anterior, toda a sua atenção tinha sido monopolizada.
Já havia descoberto que muito do que
encontrava nas sistematizações e comentários eram mera massa de inutilidades, e
que muitos dos grandes princípios que constituem o fundamento da ciência ainda
deviam ser estabelecidos. Havia estudado teologia não principalmente em
sistemáticas ou comentários, mas na Bíblia e no caráter e relações mútuas entre
Deus e suas criaturas, de onde se derivam todos os seus princípios; e já havia
se ocupado de uma série de investigações que, se, por fim, se achassem
corretas, efetuariam mudanças muito importantes nas opiniões do mundo cristão.
Há muito o ministério havia
sido a profissão de sua escolha, e não há de se duvidar que fosse a única
profissão que pensara em seguir. É provável que poucas pessoas entrem no ofício
sagrado com opiniões mais justas de sua altitude e importância.
Parece que encarava sua obra simplesmente como a obra da salvação, a mesma pela
qual Aquele a cuja comissão obedecia desceu a este mundo inferior. Para a
realização dela, a entrega de si mesmo parece ter sido deliberada e
inteira.
Sua recepção como um pregador certamente
tinha sido lisonjeira. Repetidas e urgentes propostas lhe tinham sido feitas
para que se estabelecesse, e, até onde era conhecido, obviamente era reputado
como um jovem incomumente promissor.
Northampton, o lugar onde se estabeleceu, é
em sua situação natural extremamente agradável, e era então a comarca de um
condado, compreendendo quase a metade da área da colônia. Encorpava dentro de
seus limites uma quota mais do que comum de refinamento e sofisticação. A
igreja era grande e era unida com a congregação. Ambas estavam unidas com ele,
e sinceramente desejosas que se tornasse ministro delas. Desde sua infância,
estava familiarizado tanto com o lugar como com as pessoas. Seus pais eram
amigos próximos de muitos moradores, e eles, devido às suas conexões no lugar,
encararam seu estabelecimento lá como um evento dos mais agradáveis.
Também era a pessoa que, provavelmente,
entre todas, seu avô desejava como colega e sucessor. Esse venerável homem,
então com os seus 84 anos, havia sido o ministro de Northampton por 55 anos.
Sua piedade, grande energia de caráter e seu conhecimento da humanidade há
muito adquiriram – e mantiveram por toda sua longa vida – um singular peso entre
os ministros das igrejas da Nova Inglaterra. Ainda que fosse um estudante
cuidadoso e pregador fiel e capaz, em seu caráter era um homem de
afazeres e ação, e, em todas as questões eclesiásticas importantes de
Massachusetts, teve por muitos anos influência que em geral não era contestada
e quase sempre era suprema.
Havia sido um ministro fiel e bem-sucedido
em Northampton. Sob sua pregação o lugar tinha experimentado repetidos
reavivamentos da religião, particularmente em 1679, 1683, 1690, 1712 e 1718. Os
de 1683, 1690 e 1712 se distinguiram pela sua extensão e pelo aumento no número
de comungantes. Enquanto os membros existentes na igreja, com raras exceções, o
consideravam como seu líder espiritual, todos os habitantes ativos da
cidade haviam crescido sob seu ministério e se habituaram, desde a infância, a
prestar respeito à sua pessoa e caráter e a ter deferência por suas opiniões,
tais como crianças têm com as de pais amados e venerados.
Uma circunstância, relacionada à situação de
então da igreja em Northampton, merece ser aqui mencionada, uma vez que teve
relevância final em alguns dos mais importantes eventos registrados nestas
páginas. Aquela igreja, como as outras igrejas pioneiras da Nova Inglaterra, de
acordo com sua constituição original, a ninguém admitia ao sacramento
da Ceia do Senhor, senão àqueles que, após o devido exame, eram reputados pelo
juízo da caridade cristã como pessoas regeneradas. Tal era a prática universal
da igreja desde a época de sua formação, no decorrer da vida do Sr. Mather, e
até cerca de trinta anos após o estabelecimento do Sr. Stoddard.
Até onde remonta a mudança de opinião do
Sr. Stoddard sobre essa questão provavelmente não pode ser averiguado; porém,
ele tentou, em 1704, e, ainda que não sem oposição, por fim, obteve sucesso,
introduzir uma mudança correspondente na prática da igreja. Ainda que nenhuma
votação tenha sido feita para alterar as regras de admissão, o significado da
prática foi abandonado. O sacramento, a partir de então, passou a ser
visto como uma ordenação para a conversão, e os que não eram reputados, seja
por si mesmos ou pelos outros, como possuidores da piedade eram encorajados a
se unir à igreja.
A atenção à religião, em 1718, nem foi
extensiva, nem de longa duração, e parece não ter terminado auspiciosamente.
Durante os nove anos que intervieram entre esse evento e o estabelecimento do
Sr. Edwards, o Sr. Stoddard testemunhou “uma época bem mais degenerada do que
antes entre seu povo, em particular entre os jovens”, em que os meios de
salvação eram usados com pouca ou nenhuma eficácia visível. Os jovens
tornaram-se viciados em hábitos de dissipação e licenciosidade; o governo
familiar em geral era muito falho; o dia do Senhor [Sabbath]
era largamente profanado; e o decoro do templo era, não raramente, perturbado.
Também prevalecia há muito na cidade um espírito de disputa entre dois
partidos, pelo qual estiveram por muito anos divididos, o que mantinha viva uma
suspeita mútua e os incitava a se oporem uns aos outros nos assuntos públicos.
Essas eram as circunstâncias nas quais o
Sr. Edwards iniciou seu ministério em Northampton.
Nessa época, o Sr. Stoddard, ainda que
bastante avançado em anos, tinha um bom grau de força, tanto de corpo como de
mente, e, por período considerável após o estabelecimento de seu neto, ainda
era capaz de oficiar no púlpito por metade de cada sabbath. Quase
imediatamente após esse evento, foi-lhe permitido testemunhar uma obra da graça
divina entre alguns do seu povo, no curso do qual cria-se que cerca de vinte
pessoas foram salvificamente convertidas. Para ele, isso foi uma circunstância
muito agradável, bem como muito útil a seu colega, que observa: “Tenho razão
para bendizer a Deus pela grande vantagem que tive nisso”. Sem dúvida, isso foi
intencionado para prepará-lo para cenários mais importantes e interessantes. A
atenção à religião, ainda que em tempo algum muito extensa, perdurou por cerca
de dois anos e foi seguida por diversos anos de desatenção e indiferença
gerais.
Imediatamente após seu estabelecimento, o
Sr. Edwards iniciou a prática de preparar dois sermões semanalmente. Um desses
era pregado como um estudo, em uma noite na semana. Isso perdurou por muitos
anos.
Ainda que reputasse a pregação do
evangelho como o maior dever do ministro e de modo algum oferecesse a Deus, ou
entregasse a seu povo, o que não fosse o fruto de seu suor e labor, resolveu,
contudo, desde o início de seu ministério, não devotar o tempo de toda semana
exclusivamente para a preparação de sermões, porém gastar uma larga porção dela
no estudo da Bíblia e na investigação dos assuntos mais difíceis e importantes
da teologia. Seu método de estudo com a caneta já foi descrito, e agora era
vigorosamente aplicado na continuação de suas “Miscelâneas”, nas suas “Notas
sobre as Escrituras”, bem como em uma obra intitulada “Os tipos do Messias no
Antigo Testamento”, que parece ter iniciado enquanto ainda era um candidato ao
ministério.
Contudo, tendo
uma constituição enferma e a saúde normalmente frágil, era obviamente
impossível colocar essa resolução em prática sem a mais severa atenção à dieta,
exercício e método. Porém, em todos esses pontos, seus hábitos há muito já se haviam
formado, e neles perseverara com uma referência direta ao melhor aproveitamento
do tempo e à melhor eficácia de seus poderes intelectuais.
Era extraordinariamente abstêmio na comida
e na bebida e constantemente vigilante. Observava cuidadosamente os efeitos de
diferentes tipos de comida e selecionava as que melhor se adaptavam à sua
constituição e o tornavam mais apto para o trabalho mental. Tendo também
calculado a quantidade de comida que, ao passo que sustentava sua resistência
corporal, deixava sua mente vívida e ativa, ele muito escrupulosa e
rigorosamente se confinava aos limites prescritos, reputando como vergonha e
pecado desperdiçar tempo e esforço mental com indulgência animal. Nesse
aspecto, vivia por regra e constantemente praticava grande
autonegação.
O mesmo fazia com respeito ao tempo gasto
no sono. Habituou-se a levantar às quatro horas, ou entre quatro e cinco da
manhã e, no inverno, gastava diversas horas no estudo que são comumente gastas
no sono. Às tardes, geralmente se permitia uma seção de relaxamento no
meio de sua família.
Sua diversão mais comum, no verão, era
cavalgar e caminhar. Em suas cavalgadas e passeios solitários, parece ter
decidido, antes de sair de casa, sobre que assuntos meditar. Comumente, a não
ser que fosse distraído pela companhia, cavalgaria duas ou três milhas após o
jantar, para algum bosque solitário, onde pudesse apear e caminhar um pouco.
Nesses tempos, geralmente levava sua pena e tinta consigo para anotar qualquer
pensamento que pudesse ser sugerido e que lançasse alguma luz sobre qualquer
assunto importante.
No inverno, habituou-se a, quase
diariamente, pegar seu machado e cortar madeira moderadamente, pelo espaço de
meia hora ou mais. Nos passeios solitários de distância considerável, adotou
uma espécie de memória artificial. Tendo perseguido um dado assunto de
pensamento até seus resultados apropriados, prendia um pedacinho de papel em
determinado lugar de seu casaco e obrigava sua mente a associar o assunto e o
pedaço de papel. Repetia então o mesmo processo com um segundo assunto, fixando
em um lugar diferente, e depois um terceiro, e um quarto, tanto quanto o tempo
permitisse. Depois de um passeio de diversos
dias, geralmente traria para casa um número considerável desses
lembretes; e ao ir estudar, os coletava, um por um, em ordem regular, e
escrevia a sequência de pensamento que cada um deles pretendia relembrá-lo.
O Dr. Hopkins observa que “ele não criou o
hábito de visitar os fiéis em suas próprias casas, a menos que fosse por motivo
de doença, ou se ouvisse que estivessem passando por alguma aflição especial.
Ao invés de visitar de casa em casa, costumava pregar, com frequência, em
encontros privados, nas vizinhanças particulares. Também, com frequência,
chamava os jovens e as crianças para sua própria casa, quando costumava orar com
eles, e tratá-los de modo adequado às suas idades e circunstâncias; e
catequizava as crianças em público, todo tarde de sabbath.
Costumava, por vezes, propor questões a determinados jovens, por escrito, para
que respondessem, após um determinado tempo apropriado para que se preparassem.
Ao preparar essas questões, esforçava-se para adequá-las à idade, gênio, e
capacidade daqueles a quem eram entregues. Suas questões eram geralmente de
tipo tal que não exigiam senão uma resposta curta; contudo, não poderiam ser
respondidas sem um conhecimento particular de alguma parte histórica das
Escrituras. Portanto, levavam, e mesmo obrigavam as pessoas a estudar a Bíblia”.
Ele não negligenciava visitar seu povo de
casa em casa porque pensasse que, em situações comuns, essa não fosse uma parte
importante da obra do ministro do evangelho. Antes, era porque supunha que os
ministros deveriam, com respeito a isso, consultar seus próprios talentos e
circunstâncias e visitar mais, ou menos, de acordo com o grau com o qual poderiam
esperar promover, desse modo, os grandes fins do ministério.
Observou que alguns tinham talento para
entreter e tirar proveito das visitas ocasionais entre o povo. Tinham palavras
de mandamento e facilidade para introduzir discursos religiosos úteis de modo
livre, natural e familiar, aparentemente sem cálculo ou esforço. Supunha que
esses tinham um chamado para gastar grande parte de seu tempo em visitas ao
povo. Porém, encarava seus próprios talentos como sendo de tipo muito
diferente. Não era capaz de entabular uma conversa livre com toda pessoa que
encontrasse, nem facilmente converter a conversa para o tópico que desejasse, sem
a ajuda de outros, e talvez contra as suas inclinações.
Portanto, descobriu que suas visitas desse
tipo seriam, em grande parte, sem proveito. Uma vez que estava estabelecido em
uma ampla paróquia, teria ocupado grande parte de seu tempo se visitasse de
casa em casa, tempo esse que pensava poder gastar, com propósitos mais
valiosos, em seus estudos, e assim melhor promover os grandes fins de seu
ministério. Pois lhe parecia que poderia fazer o maior bem para as almas dos
homens e promover mais a causa de Cristo pela pregação e escrita e pela
conversa com pessoas sob impressões religiosas, em seu escritório. Para lá
encorajava a todos esses que se dirigissem, onde poderiam estar certos, em
situações normais, de encontrá-lo, sendo-lhes permitido fácil acesso a ele; e
onde eram tratadas com toda a desejável ternura, bondade e familiaridade”.
Devido à sua constante vigilância e
autonegação na comida e sono, e sua atenção regular ao exercício corporal, não
obstante a fragilidade de sua constituição, poucos estudantes são capazes
de mais estrita ou longa e continuada aplicação do que ele tinha. Gastava
comumente treze horas, todos os dias, em seu estudo; e essas horas eram
passadas não na pesquisa ou investigação e acúmulo de pensamentos de outros,
mas em empregos mais exaustivos – na investigação de assuntos difíceis, na
criação e arranjo dos pensamentos, na invenção de argumentos, e na descoberta
de verdades e princípios.
Em consequência de sua uniforme
regularidade e autonegação e da força do hábito, os poderes de sua mente
estavam sempre às suas ordens e fariam sua tarefa designada no tempo apontado.
Isso o permitia apontar a preparação de seus sermões, a cada semana, a dias
específicos, e assuntos específicos de investigação para outros determinados
dias; e, à exceção de casos de doença, ou viagens, ou alguma outra interrupção
extraordinária, era verdadeiramente raro que falhasse em realizar cada parte de
sua tarefa semanal ou que ficasse apertado pelo tempo na realização. Tão
precisa era a distribuição de seu tempo, e tão perfeito o comando de seus
poderes mentais, que, em adição à sua preparação de dois discursos a cada
semana, seus estudos designados e ocasionais, e seus deveres pastorais
costumeiros, continuou com regularidade sua “Notas sobre as Escrituras”, as
“Miscelâneas”, os “Tipos do Messias”, e uma obra que logo começou, intitulada
“Profecias do Messias no Antigo Testamento e seus cumprimentos”.
No dia 28 de julho de 1727, o Sr.
Edwards casou-se, em New-Haven, com a Srta. Sarah Pierrepont. Seu avô
paterno, John Pierrepont, Esq.[2], que
viera da Inglaterra e residira em Roxbury, Massachusetts, sendo o ramo mais
jovem de uma família muito distinta em seu próprio país.
O pai dela, o Rev. James Pierrepont, era
“um eminente, piedoso e útil ministro em New-Haven”. Ele se casara com Mary, a
filha do Rev. Samuel Hooker, de Farmington, que era o filho do Rev. Thomas
Hooker, de Hartford, familiarmente denominado “o pai das igrejas de Connecticut”
e “bem conhecido nas igrejas da Inglaterra por seus distintos talentos e muito
ardente piedade”.
O Sr. Pierrepont foi um dos principais
fundadores e um dos curadores da
faculdade Yale. Para ajudar no avanço do seminário, deu palestras aos alunos,
por um tempo considerável, como professor de Filosofia Moral. A Constituição
das Igrejas de Connecticut, estabelecida em Saybrook, em 1708, é atribuída à
sua pena.
A Srta. Sarah Pierrepont nasceu em 9 de
janeiro de 1710, e, ao tempo de seu casamento, tinha 18 anos de idade. Era uma
jovenzinha de beleza incomum. Isso não é apenas a linguagem da tradição. O Dr.
Hopkins, que a viu pela primeira vez quando já era mãe de sete filhos, diz que
ela era mais do que comumente bela; e seu retrato, feito por um respeitável
pintor inglês[3],
ao tempo em que apresenta uma forma e atributos não facilmente rivalizados,
também exibe aquela amabilidade de expressão que é o resultado combinado de
inteligência, vivacidade e benevolência. Os poderes natos de sua mente eram de
ordem superior; e seus pais, tendo boas condições, e sendo de opiniões
liberais, forneceram a seus filhos todas as vantagens de uma educação iluminada
e polida.
Ela era gentil e cortês em seus modos,
amável em sua postura, e a lei da bondade parecia governar toda a sua conversa
e conduta. Também era um raro exemplo de piedade precoce, tendo exibido a vida
e poder da religião, e isso de modo notável, quando tinha apenas cinco anos de
idade[4]; e tendo
também confirmado as esperanças que seus amigos então acalentaram, pela
excelência uniforme e crescente de caráter, na infância e juventude. Tão
cálidos e animados eram seus sentimentos religiosos, em todo período da vida,
que eles poderiam talvez ter sido considerados como entusiásticos, não
estivessem sob o controle de verdadeira delicadeza e sadia discrição. O Sr.
Edwards já a conhecia muitos anos antes de seu casamento, e, pela seguinte
passagem, escrita sobre uma folha branca, em 1723, é evidente que mesmo então
sua piedade incomum, no mínimo, havia prendido sua atenção:
“Dizem que há uma jovenzinha em New-Haven
que é amada daquele Grande Ser, que criou e governa o mundo, e que há certas
temporadas em que este Grande Ser, de uma ou outra maneira invisível, vem a ela
e enche sua mente com excessivo e doce deleite; e que ela dificilmente se
importa com qualquer coisa, exceto em meditar nele – que espera logo ser
recebida onde ele está, ser arrebatada do mundo e tragada até ao céu; estando
segura que ele a ama o bastante para que a deixe permanecer sempre distante de si.
Lá, ela deve habitar com ele e ser arrebatada com seu amor e deleite para
sempre. Portanto, se você lhe apresentar todo o mundo, com os mais ricos de
seus tesouros, ela o despreza e não se importa com ele, e está inconsciente de
qualquer dor ou aflição. Ela tem uma estranha doçura na mente e pureza singular
em suas afeições. É muito justa e judiciosa em toda a sua conduta, e você não é
capaz de persuadi-la a fazer algo errado ou pecaminoso, ainda que lhe desse
todo o mundo, se com isso ela ofendesse esse Grande Ser. Ela é de uma
maravilhosa doçura, calma e de total benevolência de mente; especialmente após
este Grande Deus ter se manifestado à sua mente. Às vezes, vaga de um lugar
para outro, cantando docemente; e parece estar sempre cheia de alegria e
prazer; e ninguém sabe por quê. Ama estar sozinha, andando nos campos e
bosques, e parece ter alguém invisível sempre conversando consigo”.
Após o devido reconhecimento do ardor de
sentimento, o leitor estará convencido que tal testemunho, relativo a uma jovem
de treze anos, não poderia ter sido dado por um juiz tão competente não
houvesse algo incomum na pureza e elevação de sua mente e na excelência de sua
vida. Poucas pessoas, somos convencidos, não mais velhas do que ela era ao
tempo de seu casamento, fizeram progresso similar na santidade; e raro, muito
raro, é o exemplo em que resulta tal conexão em uma felicidade mais pura ou
mais ininterrupta que essa. Foi uma união fundada sobre a alta estima pessoal e
em mútua afeição, que continuamente cresceu, amadureceu e sazonou para o tempo
da colheita. O estado a que foi chamada a preencher nessa idade precoce era de
grande delicadeza, bem como responsabilidade, e era acompanhado com muitas
dificuldades. Ela adentrou na realização de vários deveres à sua família e
povo, aos quais foi convocada, com uma firme confiança na condução e apoio de
Deus; e, talvez, nenhuma evidência mais forte possa ser dada de sua dignidade
essencial de que, desde o princípio, tenha executado seus deveres de tal
maneira que lhe assegurou a alta e crescente aprovação de todos que a
conheciam.
A atenção à
religião, que anteriormente foi mencionada como iniciando o período da
ordenação do Sr. Edwards, ainda que não extensa no tempo, perdurou por cerca de
dois anos, e foi seguida por diversos anos de desatenção e indiferença. Seus
labores públicos foram continuados com fidelidade, mas sem sucesso peculiar; e
ele tinha razão para lamentar o declínio bastante perceptível de seu povo,
tanto na religião como na moral.
No dia 11 de
fevereiro de 1729, seu venerável colega foi removido do cenário de seus labores
terrenos. A ocasião foi sincera e ternamente lamentada pelo povo de
Northampton, bem como por toda a extensão da província. Seu sermão de funeral
foi pregado por seu genro, o Rev. William Williams, de Hatfield; e numerosos
ministros, de seus próprios púlpitos, prestaram um tributo similar de respeito
à sua memória.
Na primavera
do mesmo ano, a saúde do Sr. Edwards, em consequência da dedicação muito
estrita, enfraqueceu-se a tal ponto que foi obrigado a se ausentar de seu povo
por diversos meses. No início de maio estava em New-Haven, em companhia da Sra.
Edwards e sua filhinha, nascida em 25 de agosto de 1728. Em setembro, seu pai,
em uma carta a uma de suas filhas, expressa a esperança de que a saúde do filho
logo se restaurasse, para permiti-lo retomar suas obras, e pregar duas vezes no
sabbath. Ele, provavelmente, passou o verão em parte em Northampton e,
em parte, viajando.
Sua visita a
Windsor, em setembro, deu-lhe a última oportunidade de ver sua irmã Jerusha, a
quem amava ternamente, e que, um pouco antes, havia passado tempo considerável
com seus amigos em Nothampton. Ela foi atacada por uma febre maligna em
dezembro, e no dia 22 desse mês morreu na casa de seu pai. A força e excelência
incomum do seu caráter a tornaram peculiarmente querida a todos os seus parente
e amigos; e, pelo testemunho de seu pai, de quatro de suas irmãs, e de um amigo
da família que estava distante, escritos logo após sua morte, averiguei as
seguintes circunstâncias.
Ela nascera
em junho de 1710, e, pelo testemunho desse amigo, era uma moça de grande doçura
de temperamento, bom entendimento e de bela aparência. Era devotada à leitura
desde a infância, e, ainda que gostasse de livros por prazer e diversão, costumeiramente
preferia aqueles que requeriam pensamento constante e que são adequados para
fortalecer e informar a mente. À semelhança de suas irmãs, tinha recebido uma
educação completa, tanto em inglês como nos clássicos, e, pela sua
proficiência, tinha justificado as opiniões de seu pais e sustentado a honra e
reivindicações das mulheres. Nas conversas, era sólida e instrutiva além de
seus anos; contudo, ao mesmo tempo, era jovial e ativa, e tinha uma parcela
incomum de perspicácia e humor natos.
Sua perspicácia
era sempre delicada e bondosa e usada meramente para recreação. De acordo
com a regra que ela prescreveu a alguém, constituía “o molho, e não a comida, no
entretenimento”. Sendo afeiçoada ao retiro e à meditação, desde cedo passava
grande parte de seu tempo livre em caminhadas solitárias no bosque, por detrás
da casa de seu pai. A riqueza de sua mente na reflexão moral e observação
filosófica provavam que essas horas não eram gastas em devaneios, mas ocupadas
por sólido e útil pensamento.
Habitualmente
serena e animada, era contente e feliz; não invejava os outros; não desejava
admiração, nem era ambiciosa ou interesseira, e, ao tempo em que prezava
altamente a estima de seus amigos e dos sábios e bons, estava firmemente
convencida de que sua felicidade dependia, especial e ultimamente, do estado de
sua própria mente. Ela parece ter obtido o inteiro governo de seu temperamento
e paixões, descoberto serenidade e firmeza incomuns nas tentações, e, ao passo
em que buscava os melhores conselhos, em situações difíceis, ao fim, contudo,
agia por si mesma. Sua vida religiosa começara na infância, e, desde então, a
meditação, oração e leitura das Sagradas Escrituras não eram uma tarefa
prescrita, mas um deleite cobiçado. Suas irmãs, que sabiam o quanto de seu
tempo diário era passado a sós, tinham razão para crer que lugar algum era tão
agradável a ela quanto o seu próprio retiro, e sociedade alguma tão deleitosa
quanto a solidão com Deus.
Ela lia
teologia como uma ciência, com o mais profundo interesse, e buscava o estudo
sistemático das Escrituras com o auxílio dos melhores comentaristas. Sua
observância do sabbath era exemplar, solenemente preparando-se para ele,
distribuindo-lhe as horas prescritas e devotando-o apenas aos empregos
sagrados. Na solene e total devoção de mente aos deveres do santuário, ela
parecia, habitualmente sentir-se como Davi: “A santidade, Senhor, é o ornamento
perpétuo da tua casa”. Poucas pessoas assistem mais atentamente à pregação, ou
são mais judiciosos em relação a ela, ou tem mais elevado prazer naquilo que é
sólido, pungente e prático. Ela via e conversava com Deus nas suas obras da
criação e providência. Sua alegria religiosa era, às vezes, intensa e elevada.
Após falar a uma de suas irmãs, em uma ocasião particular, que não a poderia
descrever, observou-lhe que parecia com um traço de luz brilhando em um lugar
escuro e que a lembrava de uma linha do hino de Watts:
E de repente,
do céu fendido,
um brilho da
glória irrompeu.”
Sua
consciência era verdadeiramente iluminada, e sua conduta parecia ser governada
por princípios. Ela aprovava as boas coisas; descobria grande reverência pela
religião e forte ligação aos verdadeiramente piedosos e judiciosos; era severa
na autoestima, e caridosa ao julgar os outros; não era facilmente provocada, e
geralmente tentava escusar a provocação; era incapaz de acalentar preconceitos,
e lamentava e lutava para ocultar as faltas dos cristãos.
Do testemunho
daqueles que a conheciam melhor: “Era uma filha notavelmente amorosa, submissa
e obediente, e uma irmã muito bondosa e amorosa”; “muito prestativa e útil na
família, e trabalhando com disposição com as próprias mãos”; muito “bondosa e
amigável com os vizinhos”; atenciosa com os doentes, caridosa com os pobres,
pronta a simpatizar com os afligidos e misericordiosa com os mais rudes; e ao
mesmo tempo, respeitosa com os superiores, prestativa para com os iguais,
condescendente e afável com os inferiores, e manifestando sincera boa vontade
para com toda a humanidade. Cortês e afável em seus modos, também era modesta,
sem ostentação e recatada; ao mesmo tempo em que constantemente se respeitava,
também exigia o respeito de toda que a viam. Gostava de tudo o que fosse
elegante na vestimenta, mas avessa a tudo aparatoso e pomposo.
Amava a
paz e lutava para reconciliar os que estivessem em desavença; era delicadamente
atenciosa com as moças que fossem desprezadas por outras; recebia reprovações
com mansidão e falava aos outros acerca de suas faltas com tanta doçura e
fidelidade, a ponto de aumentar a estima e afeição deles por ela. Detestava
toda fraude, malogro e engano, toda adulação e falsidade, e recusava-se
completamente a se associar com aqueles que exibissem esse caráter. Era muito
cuidadosa e seletiva em suas amizades e muito verdadeira e fiel com seus amigos
– valorizando bastante suas afeições, e demonstrando o mais profundo interesse
no seu bem-estar.
Suas
conversas e conduta indicavam inocência e pureza de mente incomuns. Evitava
muitas coisas, que são consideradas corretas por multidões rigorosamente
virtuosas. Durante sua doença, não foi esquecida. Um dia, ou antes, do
desfecho, manifestou uma notável admiração da graça e misericórdia de Deus,
através de Jesus Cristo pelos pecadores e, em particular, por si mesma,
dizendo: “É maravilhoso, e me surpreende”. Parte do tempo, esteve em algum grau
de delírio; porém, quando sua mente vagava, parecia perambular para o céu. Bem
próximo de sua morte, tentou cantar um hino, intitulado “A Ausência de Cristo”,
e morreu em plena posse de suas faculdades racionais, expressando sua esperança
da salvação eterna pelo sangue.
Este primeiro
exemplo da ruína da morte, nesta numerosa família, foi um evento de muita
provação para todos os seus membros; e o carinho com o qual nutriam a memória
da que tinha partido, provavelmente perdurou por toda a vida.
A segunda filha do Sr. e da Sra. Edwards
nasceu no dia 16 do abril seguinte e foi chamada Jerusha, por causa da irmã
falecida.
Em julho de 1731, o Sr. Edwards estando em
Boston, pregou um sermão na palestra pública intitulado “Deus glorificado na
dependência do homem”, baseado em 1 Coríntios 1.29-31: “A fim de que ninguém se
vanglorie na presença de Deus. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o que se nos
tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção,
para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”.
Foi publicado pelo pedido de diversos
ministros e outros que o ouviram, e precedido por um prefácio do Rev. Prince
and Cooper, de Boston. Essa foi a sua primeira publicação e é raramente
conhecida do leitor americano de suas obras. O assunto era então novidade, da maneira
exibida pelo pregador, e causou uma profunda impressão na audiência e no
reverendo que se empenhou particularmente pela sua publicação.
“Não foi com pouca dificuldade”, dizem,
“que a juventude e modéstia do autor foram prevalecidas, para que aparecesse como
pregador em nossa palestra pública, e posteriormente nos desse uma cópia de seu
discurso, pelo desejo de diversos ministros e de outros que o ouviram. Porém,
como rapidamente descobrimos que ele era um obreiro que não precisa se
envergonhar diante de seus irmãos, nossa satisfação foi maior em vê-lo
mergulhando em tão nobre assunto e tratando-o com tanta força e clareza, como
os judiciosos perceberão na seguinte composição: um assunto que assegura a Deus
o seu maior desígnio, na obra da redenção do homem caído pelo Senhor Jesus
Cristo, que é evidentemente assim apresentado, para que toda a glória retorne àquele
que é o bendito ordenador, adquiridor e aplicador; um assunto que adentra
profundamente na religião prática; sem a crença no qual esta deve breve morrer
nos corações e vidas dos homens”.
O seguinte é o testemunho prestado por
esses excelentes homens quanto aos talentos e piedade do autor:
“Nada nos resta, portanto, senão expressar
nossa alegria e gratidão ao grande Cabeça da igreja que ainda se agrada de
levantar de entre os filhos de seu povo, para o suprimento de suas igrejas,
aqueles que confirmam e mantêm esses princípios evangélicos; e que nossas
igrejas, não obstante todas as suas fraquezas, ainda mantenham esses retos
princípios em tão alta conta, bem como os que os publicamente os esposam e
ensinam. Da mesma maneira, nada nos resta senão desejar e orar para que as
faculdades na vizinhança, colônia, bem com a nossa própria, possam ser mães frutíferas
de muitos filhos como este autor. Enfim, regozijamos de coração o favor
especial da Providência em conceder presente tão rico à feliz igreja de
Northampton, que por tão muitos lustres de anos floresceu sob a influência de
doutrinas piedosas, ensinadas-lhes no excelente ministério de seu falecido
venerável pastor, cujo dom e espírito esperamos tenha longa vida e brilho em
seu neto, a fim de que abundem em todos os frutos amáveis da humildade e
gratidão evangélicas, para a glória de Deus”.
O discurso em si merece essa alta
recomendação. Foi o início de uma série de esforços da parte do autor para
ilustrar a glória de Deus, demonstradas na maior de todas as suas obras, a da
redenção do homem. Rara é, de fato, a instância na qual uma primeira publicação
é igualmente rica em pensamento condensado ou em novas e elevadas concepções.
A terceira filha dos Edwards, também uma
menina, nasceu em 13 de fevereiro de 1732, e foi chamada de Esther, em
homenagem à sua mãe e à Sra. Stoddard.
[1]
Uso espiritual, aqui, no sentido mais original e apropriado, em oposição a
material (N. A.)
[2]
Esquire (Escudeiro, abreviado Esq.) era originalmente um nível
social acima do mero senhor (gentleman), permitido, por exemplo, para os
filhos dos nobres e da pequena nobreza inglesa, que não possuíam outro título.
Um gentleman era designado Mr. (prefixado ao nome)
ao passo que um Esquire era designado Esq. (como
sufixo ao nome). (N. T.)
[3]
O Rev. Dr. Erskine, o cálido amigo e correspondente de Edwards, desejando obter
um retrato correto, tanto dele como de sua esposa, e ouvindo que um respeitável
pintor inglês estava em Boston, encaminhou a seu agente nessa cidade a soma
requisitada, não apenas para os retratos, mas para as despesas da viagem. Eles foram
feitos em 1740 e, após a morte do Dr. Erskine, foram muito bondosamente
transmitidos por seu testamenteiro ao Dr. Edwards. (N. A.)
[4] Life of Edwards, de Hopkins. O Dr. Hopkins residiu com a família por
tempo considerável. (N. A.)
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