SEU
DIÁRIO
POR SERENO E. DWIGHT
As opiniões e práticas de homens
de igual excelência têm variado consideravelmente com relação a manter um
diário. Muitos jamais tentaram fazê-lo. Alguns que em um período da vida
iniciaram um, mais tarde, por motivos diversos, declinaram. Outros aderiram com
constância a um costume que certamente tem a sanção de alguns dos mais
eminentes nomes na igreja de Deus. De pronto se admite que muitos diários foram
mantidos de modo bastante irrefletido, e ainda é matéria de profundo pesar que
tais registros tenham sido publicados, não apenas para a tristeza de mentes
inteligentes, mas para o dano da própria religiao. Estes também levantaram o
preconceito contra todos os registros similares.
Contudo, há alguns diários
publicados de homens excelentes que expressam tanto sólido juízo quanto
fervente piedade, e têm sido fonte de tanta utilidade que um equilíbrio mais do
que justo é apresentado contra obras que possuem descrições opostas. Ninguém se
dispõe a lamentar a publicação de partes dos diários de Philip e Matthew Henry,
[David] Brainerd, Doddridge ou de Joseph Williams e alguns outros. Estes escritos
ilustram o poder interior e exterior da piedade, refletem honra sobre esses
mesmo indivíduos, e geram um poderoso e santo estímulo para as mentes dos
demais cristãos. O Diário de Jonathan Edwards corresponde em sua excelência a
estes assim referenciados, e será avaliado com os mesmos sentimetnos, e
espera-se que conduza aos mesmos efeitos benéficos.
O Diário começa em 18 de dezembro
de 1722, quando tinha dezenove anos. Até o dia 15 de janeiro está escrito em
duas folhas pequenas; e o restante está em um livro. Como começa abruptamente,
e tão proximo quanto possível do topo da página, o seu início sem dúvidas está
perdido, e não é improvável que, da maneira em que originalmente o escreveu,
remontasse no mínimo para a época de sua preparação ao ministério.
Seu propósito era, como logo se
verá, para uso privado apenas; e se estivesse consigo, no fim de sua vida, não
é improvável que pudesse ter sido destruído. “Contudo, tudo o que é reputado para
o bem, e é perfeitamente coerente com a verdadeira reputação do autor, pode ser
publicado com honra, qualquer que tenha sido seu propósito enquanto o escrevia.
Os melhores dos homens, na realidade, têm pensamentos, opiniões e sentimentos
que são perfeitamente apropriados e retos em si mesmos, que, contudo, seria
totalmente impróprio se fossem revelados a outros. Mas um homem de sadia
discrição terá cuidado de que nada desta natureza esteja ao alcance de um
acidente [isto é, de alguém descobrir, por acidente, o conteúdo]. O que o Sr.
Edwards queria manter escondido de todos os olhos, à exceção dos seus, ele o escreveu
em símbolos. Em uma ocasião, após
haver escrito consideravelmente dessa forma, acrescenta esta observação em sua
escrita costumeira: ‘Lembre-se de agir de acordo com Pv 12:23. O homem prudente oculta o conhecimento.’
O leitor, enquanto investiga o
Diário em suas várias partes, será afetado pelas seguintes características: Ele
consiste de fatos; e de sólido pensamento, ditado por um profundo espírito religioso,
e não por mera expressões de sentimento, ou reflexões ou exortações morais
triviais. Era direcionado a si mesmo apenas, e não para seus amigos ou para o
público. É uma exibição de simples pensamento, sentimento e ação de um homem,
que não tem consciência de como eles parecem, senão para si e para Deus. Não são
as observações de alguém desejoso de ser visto como humilde, exaltando a
própria humildade. Se esperássemos um homem de simplicidade e piedade cristã
trazer todos os movimentos secretos de sua própria alma à luz clara e forte dos
céus, e sob ela inquirir com um olhar afiado e honesto, e com um coração
contrito, para que fosse humilhado e aperfeiçoado, este relato [do Diário] é o
que tal homem escreveria:”
Dezembro de 1722,
18 de dez. Hoje escrevi a 35ª Resolução. A razão pela qual eu, por
pouco que seja, questiono meu interesse no amor e favor de Deus é:
1. porque não consigo falar tão
plenamente da minha experiência dessa obra preparatória, de que falam os
teólogos;
2. não lembro de ter experimentado
a regeneração, naqueles passos exatos que os teólogos falam que geralmente
ocorre;
3. não sinto as virtudes cristãs
de maneira sensível, especialmente a fé. Temo que sejam apenas afeições
exteriores hipócritas, que os ímpios podem sentir tanto quanto os outros. Elas não
parecem ser suficientemente interiores, plenas, sinceras, inteiras e de
coração. Não parecem tão substanciais, e trabalhadas na minha própria natureza,
como eu gostaria;
4. porque sou, às vezes, culpado
de pecados de omissão e comissão. Ultimamente tenho duvidado se não transgredi
na maledicência. Hoje, resolvi: Não.
19 de dez. Hoje escrevi a 36ª Resolução. Ultimamente tenho estado
perplexo, ao ver a doutrina do galardão celestial sendo questionada; porém
agora já superei quase que por completo a dificuldade.
20 de dez. Hoje questionei se, de algum modo, não fui culpado de negligência
ontem, e pela manhã de hoje; mas, resolvi: Não.
21 de dez, sexta-feira. Hoje e ontem, estive extremamente apático, seco e
morto.
22 de dez. sábado. Hoje, reavivado pelo Espírito Santo de Deus; afetado com o
senso da excelência da santidade, senti mais o exercício de amor a Cristo do
que de costume. Também senti visível arrependimento pelo pecado, porque
cometido contra um Deus tão misericordioso e bom. Esta noite, fiz a 37ª
Resolução.
Dia do Senhor, à noite, 23 de
dez. Fiz a 38ª Resolução.
Segunda-feira,
24 de dez. Pensamentos mais elevados
do que os de costume acerca da excelência de Cristo e de seu reino. Concluí por
observar, ao fim de cada mês, o número de quebras de resoluções, para ver se
aumentaram ou diminuíram, a partir de hoje, e, a partir disso, calcular o
crescimento mensal em uma base semanal, e a partir do todo, meu aumento anual,
começando do dia de ano-novo.
Quarta-feira, 26 de dez. Ontem,
cedo pela manhã, fui neutralizado pela dor de cabeça, que durou o dia inteiro
(embora espere que não tenha perdido muito). Fiz uma adição à 37ª Resolução,
relacionada às semanas, meses e anos. À
noite. Fiz a 33ª Resolução.
Sábado, 29 de dez. Por
volta do por do sol de hoje estive apático e sem vida.
Anos de 1722-1723
Terça-feira, 1º de jan.
Estive apático por diversos dias. Examinei se não fui culpado de negligência no
dia de hoje e resolvi: Não.
Quarta-feira, 2 de jan.
Apático. Descubro, por experiência, que, ainda que faça resoluções, e o que
quer que seja, com inúmeras ideias, tudo é nada, e sem propósito algum, sem os
movimentos do Espírito de Deus. Pois se o Espírito Santo se ausentasse sempre
de mim, como o fez na semana passada, não obstante tudo o que eu faça, não
cresceria, mas definharia, e pereceria miseravelmente. Percebo que, se Deus retirasse
seu Espírito um pouco mais, não hesitaria em quebrar minhas resoluções, e rapidamente
voltaria ao meu antigo estado. Não há dependência em mim mesmo. Nossas
resoluções podem estar no mais alto [patamar] num dia, contudo, no próximo,
podemos estar em uma miserável condição de morte, sem a menor semelhança com a
pessoa que tomou a resolução. Desse modo, é inútil tomar resoluções, a não ser
que dependamos da graça de Deus. Pois, se não fosse por sua mera graça, alguém poderia
ser muito bom num dia, e muito ímpio no próximo.
Também
descobri por experiência que não há como desvendar os propósitos da
Providência, e em particular as dispensações relacionadas a mim, a não ser o
fato de que as aflições vêm como correções pelo pecado, e Deus pretende, quando
nos encontramos com elas, que nós olhemos para trás na nossa caminhada, e
vejamos onde erramos, e lamentemos desse pecado particular, e de todos os
outros pecados, diante dele. Sabendo também isto: que todas as coisas cooperam
para o nosso bem; embora não saibamos de que maneira, mas confiando em Deus.
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