quinta-feira, 16 de junho de 2016

Jonathan Edwards e o Cessassionismo dos Dons Extraordinários

Assim como esses dons miraculosos do Espírito eram apenas temporários com respeito àquelas pessoas particulares que os desfrutaram, também são apenas temporários com respeito à igreja de Deus tomada como um corpo coletivo. Esses dons não são frutos do Espírito que foram dados para continuarem na igreja por todas as épocas. Eles existiram na igreja, ou pelo menos foram dados de tempos em tempos, embora não sem alguns intervalos consideráveis, do início do mundo até que o cânon da Escritura estivesse completo. 
Foram concedidos à igreja antes do início do cânon sagrado, isto é, antes que o livro de Jó e os cinco livros de Moisés fossem escritos. As pessoas tinham a palavra de Deus, então, de uma outra forma, isto é, por revelação imediata, de tempos em tempos, dadas a pessoas eminentes que eram, por assim dizer, pais na igreja de Deus. Essa revelação passou deles para outros pela tradição oral. Era muito comum, então, que o Espírito de Deus se comunicasse em sonhos e visões, como aparece em várias passagens no livro de Jó. 
As pessoas possuíam dons extraordinários do Espírito antes do dilúvio. Deus, imediata e miraculosamente, revelou-se a Adão e a Eva, e assim também a Abel e a Enoque, de quem somos informados (Judas 14) ter o dom de profecia. Semelhantemente, Noé recebeu revelações imediatas e avisou o mundo antigo da parte de Deus. Cristo, por seu Espírito falando através dele, foi e pregou aos espíritos que agora estão em prisão, que foram em outro tempo desobientes, quando a longanimidade de Deus aguardava enquanto a arca estava sendo preparada (1 Pe 3.19,20). E assim Abraão, Isaque e Jacó foram favorecidos com revelações imediatas. José teve dons extraordinários do Espírito, bem como Jó e seus amigos.
Desde esse tempo, parece ter havido uma interrupção dos dons extraordinários do Espírito até o tempo de Moisés; e, desde esse tempo, eles continuaram em uma sucessão de profetas que foi mantida, embora não sem que houvesse novamente interrupção, até ao tempo de Malaquias. Após isso, parece ter havido um longo intervalo de diversas centenas de anos, até à aurora do dia do evangelho, quando o Espírito começou novamente a ser dado em seus dons extraordinários, como o foi a Ana, Simeão, Zacarias e Isabel, Maria, José e a João Batista.
Essas comunicações do Espírito foram dadas para preparar o caminho para aquele que tem o Espírito sem medida, o grande profeta de Deus, por quem o Espírito é comunicado a todos os outros profetas. E nos dias da sua encarnação, seus discípulos tiveram uma medida dos dons miraculosos do Espírito, sendo assim capacitados a ensinar e a operar milagres. Mas, após a ressurreição e ascensão, houve a mais plena e notável efusão do Espírito em seus dons miraculosos que jamais ocorreu, começando no dia de Pentecostes, após Cristo haver ressuscitado e ascendido ao céu.
Em consequência disso, não apenas ocasionalmente uma pessoa extraordinária era agraciada com esses dons extraordinários, mas eram comuns na igreja, e assim continuaram durante o tempo de vida dos apóstolos, ou até a morte do último deles, ou seja, o apóstolo João. Isso ocorreu cerca de cem anos depois do nascimento de Cristo; de modo que os primeiros cem anos da era cristã, ou primeiro século, foi a era dos milagres. Mas, logo após isso, o cânon da Escritura estando completo quando o apóstolo João tinha escrito o livro de Apocalipse, o qual escreveu não muito antes de sua morte, esses dons miraculosos não mais prosseguiram na igreja. Pois agora havia pronta uma revelação escrita e estabelecida da mente e vontade Deus, pela qual Deus havia plenamente registrado uma regra duradoura e todo-suficiente para sua igreja em todas as eras. E a nação e igreja judaicas sendo destruídas, e a igreja cristã e a última dispensação da igreja de Deus sendo estabelecidas, os dons miraculosos do Espírito não mais eram necessários. Portanto, eles cessaram; pois, embora tivessem existido na igreja por tantas eras, contudo, então, falharam, e Deus os fez falhar pois não havia mais ocasião adicional para eles. E assim foi cumprido o que foi dito no texto: “Havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará” (1Co 13.8).
Agora, parecem ter cessado todos os frutos do Espírito semelhantes a esses, e não temos mais razões para esperá-los. E quanto àqueles frutos do Espírito que são comuns, tais como a convicção, iluminação, fé, etc., que são comuns tanto aos crentes como aos descrentes, esses são dados em todas as eras da igreja no mundo. Porém, com respeito às pessoas que têm esses dons comuns, eles cessarão quando elas vierem a morrer; e com respeito à igreja de Deus considerada coletivamente, eles cessarão e não mais haverá deles após o dia do julgamento.

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sábado, 21 de maio de 2016

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terça-feira, 15 de março de 2016

Jefté Matou Sua Filha? (Parte 1 de 2)

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Jefté Encontra Sua Filha, de Hieronymus Francken III

Por Jonathan Edwards


Com relação ao voto de Jefté e à oferta de sua filha. 
Que Jefté não matou sua filha nem a ofereceu em sacrifício as seguintes considerações evidenciarão. 
1. O teor de seu voto, se supusermos que tenha sido um voto lícito, não o obrigava a isso. Ele prometeu que o que quer que saísse da porta de sua casa para encontrá-lo certamente seria do Senhor, e ele o ofereceria como holocausto. Com esse voto, estava obrigado a tão somente lidar com o que quer que saísse das portas de sua casa para encontrá-lo como se lidava com as coisas que eram santas ao Senhor. 
Pela lei, os holocaustos a Deus deveriam ser regulados pela própria lei de Deus e as regras que Ele dera. Supondo que fosse um jumento ou algum animal imundo que viesse encontrá-lo (uma vez que Jefté não poderia prever se isso não ocorreria) seu voto não o obrigaria a oferecê-lo em sacrifício, ou a realmente fazer dele um holocausto. Mas deveria tratá-lo conforme a lei de Deus orientava a lidar com animais imundos, que não eram santos ao Senhor. Estes, em outra situação, estariam aptos a ser ofertados como holocausto a Ele, não fora por sua incapacidade legal devido à impureza de sua natureza. 
Todas as coisas vivas que eram consagradas deveriam ser, por assim dizer, holocausto para Deus, isto é, deveriam realmente ser ofertadas como um holocausto, se não fossem de natureza que a tornassem incapazes disso. Nesse caso, algo diferente deveria ser feito, o que Deus aceitaria no lugar da oferta de sacrifício. A ordenança que temos em Levítico 27.11-13 é: “Se for animal imundo dos que se não oferecem ao SENHOR, então, apresentará o animal diante do sacerdote. O sacerdote o avaliará, seja bom ou mau; segundo a avaliação do sacerdote, assim será. Porém, se dalgum modo o resgatar, então, acrescentará a quinta parte à tua avaliação”. Ou seja, deveria ser avaliado pelo sacerdote, e o ofertante deveria determinar, após a avaliação, se o resgataria ou não. Se não o resgatasse, se fosse jumento, deveria ter o pescoço quebrado [Ex 13.12,13]. Se fosse outro animal imundo, deveria ser vendido de acordo com a avaliação do sacerdote [Lv 27.27] (como é em outra parte instruído que seja feito com os animais imundos que eram santos ao Senhor [Ex 34.20]), mas se o resgatasse, se fosse jumento, deveria resgatá-lo com um cordeiro [Ex 13.12,13]. 
Se fosse outro animal imundo, deveria acrescentar, adicionalmente, a quinta parte à avaliação do sacerdote, ou seja, deveria dar o valor do animal acrescido da quinta parte. Se Jefté tivesse feito isso no caso de um animal imundo que viesse encontrá-lo, teria agido de acordo com o seu voto. Se, nessas circunstâncias, tivesse insistido em oferecer um animal imundo como holocausto, teria provocado terrivelmente a Deus. A única coisa que seu voto o obrigaria era a tão somente lidar com o animal imundo que fora consagrado do modo como a lei de Deus o instruía a fazer, ao invés de oferecer um holocausto. 
Assim, como foi sua filha que o encontrou, poderia fazer a ela de acordo com seu voto sem que a oferecesse como holocausto, se lhe fizesse de acordo com o que a lei de Deus instruía a ser feito com as pessoas dedicadas, ao invés de oferecer um holocausto, em razão da inadequação que, pela misericórdia de Deus, impede que um ser humano seja oferecido como sacrifício. Pois oferecer, seja um ser humano, seja um animal imundo em sacrifício a Deus são ambos mencionados como grande abominação diante dele e como coisas que assim eram consideradas por todos. Isaías 66.3 diz: “O que imola um boi é como o que comete homicídio; o que sacrifica um cordeiro, como o que quebra o pescoço a um cão; o que oferece uma oblação, como o que oferece sangue de porco”. Mas, para clarear mais plenamente as dificuldades que acompanham esse assunto, observarei em particular algumas coisas relacionadas às leis que diziam respeito às pessoas que eram consagradas, tornando-se assim santas ao Senhor. 
1. Todo ser vivo que fosse separado ao Senhor, tantos homens como animais, eram, por direito, um holocausto a Deus, e deveriam ser realmente ou sacrificados ou alguma coisa a mais lhes deveria ser feita que Deus apontara em lugar da queima em sacrifício. Assim, os primogênitos dos homens e dos animais eram todos santos ao Senhor e deveriam ser ou oferecidos como holocausto ou ser resgatados. O primogênito dos homens e dos animais impuros deveriam ser resgatados. 
2. As pessoas que eram dedicadas a Deus por um voto singular, a menos que fossem daquelas devotadas a ser amaldiçoadas (das quais fala Lv 27.28,29), deveriam ser trazidas e apresentadas diante do Senhor, para que o sacerdote pudesse avaliá-las, e deveriam ser resgatadas de acordo com a avaliação do sacerdote. Mas os animais que pudessem ser sacrificados deveriam ser sacrificados [Lv 27.7-9]. 
3. Pessoas que eram assim dedicadas a Deus pelo voto de seus pais deveriam ainda permanecer como pessoas separadas e apartadas para Deus, após o seu resgate. Isso se comprova a partir de diversas coisas: 
1ª. O resgate servia apenas para redimi-las da morte em sacrifício. Não era para resgatá-las da condição de santas ao Senhor, isto é, pessoas separadas e santificadas a ele. 
. Os primogênitos eram designados para ser dados ou consagrados a Deus [Ex 13.2 e 22.19]. Eles eram, pela lei de Deus, santos ao Senhor, exatamente como as pessoas a Ele dedicadas por um voto singular, como é evidente pelo fato de serem resgatados da mesma forma e pelo mesmo preço, bastando comparar o início do capítulo 27 de Levítico com Números 18:15,16. Deus, ao dar a regra para o resgate do primogênito neste texto, evidentemente refere-se ao que já havia anteriormente apontado naquele, com relação às pessoas dedicadas por um voto singular, e, semelhantemente, o primogênito dos animais imundos deveria ser resgatado da mesma forma que os animais imundos que eram dedicados, como se vê pela comparação entre Lv 27.11-13 com 5.27. Contudo, ainda assim o primogênito permanecia separado a Deus como sua possessão especial, após ser resgatado. Daí que os levitas foram aceitos como o primogênito, como uma tribo separada para Deus, depois que o primogênito foi assim resgatado. 
3ª. Pessoas que eram dedicadas a Deus pelo voto de seus pais eram os nazireus, bem como aqueles que eram separados por seus próprios votos. A palavra nazireu significa alguém que é separado. Poderiam ser separados pelo voto de seus pais ou pelo seu próprio. Isso é muito evidente nos exemplos que temos na Escritura. Assim Samuel era um nazireu pelo voto de sua mãe: “E fez um voto, dizendo: SENHOR dos Exércitos, se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, e lhe deres um filho varão, ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha” [1 Sm 1.11]. Também o mesmo se deu com Sansão [Jz 13.5]. Mas o nazireu deveria continuar separado para Deus, enquanto permanecesse sob o voto pelo qual havia sido devotado. 
4. Aqueles que eram assim devotados a Deus para ser nazireus deveriam, ao máximo de sua capacidade, abster-se de todas as poluições legais [Lm 4.7]. Com respeito à imundície dos cadáveres, era exigido que se mantivessem puros com mais severidade do que os sacerdotes, à exceção somente do sumo sacerdote, e eram obrigados a ser tão severos quanto o próprio sacerdote [Nm 6.6,7; comp. com Lv 21.10,11]. Embora apenas algumas impurezas legais sejam expressamente mencionadas como coisas que os nazireus deveriam evitar, contudo, deve-se entender que ele deveria separar-se ao máximo de todas as impurezas legais, de acordo com o seu nome, um nazireu, isto é, pessoa separada. O nazireu deveria se abster de todas as impurezas legais de maneira semelhante aos sacerdotes, e até mesmo como o sumo sacerdote; há instruções semelhantes dadas a um e a outro. O sumo sacerdote não deveria de forma alguma tornar-se imundo com cadáveres e estava proibido de beber vinho ou bebida forte, quando ia ao tabernáculo da congregação [Lv 10.9]. Os sacerdotes deveriam se abster de toda espécie de impureza legal, tanto quanto estivesse ao seu alcance [início de Lv 12]. 
Se for objetado que os levitas que eram aceitos como do Senhor, no lugar dos primogênitos que eram santos ao Senhor, não estavam obrigados a essa severidade, respondo que essa pode ser uma das razões pela qual Deus não olha para o primogênito como estando plenamente resgatado pelo fato de os levitas serem seus substitutos. Mas há encargos extraordinários requeridos deles para a manutenção dos levitas, muito maior do que a proporção do tamanho da tribo. E Deus poderia aceitar isso como um equivalente pelo fato de não serem tão estritamente separados, assim como aceitava o resgate extraordinário em dinheiro pelo número excedente de primogênitos, que era maior que o dos levitas [Nm 3.46,47 e 18.15,16].