sexta-feira, 13 de junho de 2014

MEMÓRIAS DE JONATHAN EDWARDS - CAP. 4

SEU DIÁRIO
POR SERENO E. DWIGHT

As opiniões e práticas de homens de igual excelência têm variado consideravelmente com relação a manter um diário. Muitos jamais tentaram fazê-lo. Alguns que em um período da vida iniciaram um, mais tarde, por motivos diversos, declinaram. Outros aderiram com constância a um costume que certamente tem a sanção de alguns dos mais eminentes nomes na igreja de Deus. De pronto se admite que muitos diários foram mantidos de modo bastante irrefletido, e ainda é matéria de profundo pesar que tais registros tenham sido publicados, não apenas para a tristeza de mentes inteligentes, mas para o dano da própria religiao. Estes também levantaram o preconceito contra todos os registros similares.
Contudo, há alguns diários publicados de homens excelentes que expressam tanto sólido juízo quanto fervente piedade, e têm sido fonte de tanta utilidade que um equilíbrio mais do que justo é apresentado contra obras que possuem descrições opostas. Ninguém se dispõe a lamentar a publicação de partes dos diários de Philip e Matthew Henry, [David] Brainerd, Doddridge ou de Joseph Williams e alguns outros. Estes escritos ilustram o poder interior e exterior da piedade, refletem honra sobre esses mesmo indivíduos, e geram um poderoso e santo estímulo para as mentes dos demais cristãos. O Diário de Jonathan Edwards corresponde em sua excelência a estes assim referenciados, e será avaliado com os mesmos sentimetnos, e espera-se que conduza aos mesmos efeitos benéficos.
O Diário começa em 18 de dezembro de 1722, quando tinha dezenove anos. Até o dia 15 de janeiro está escrito em duas folhas pequenas; e o restante está em um livro. Como começa abruptamente, e tão proximo quanto possível do topo da página, o seu início sem dúvidas está perdido, e não é improvável que, da maneira em que originalmente o escreveu, remontasse no mínimo para a época de sua preparação ao ministério.
Seu propósito era, como logo se verá, para uso privado apenas; e se estivesse consigo, no fim de sua vida, não é improvável que pudesse ter sido destruído. “Contudo, tudo o que é reputado para o bem, e é perfeitamente coerente com a verdadeira reputação do autor, pode ser publicado com honra, qualquer que tenha sido seu propósito enquanto o escrevia. Os melhores dos homens, na realidade, têm pensamentos, opiniões e sentimentos que são perfeitamente apropriados e retos em si mesmos, que, contudo, seria totalmente impróprio se fossem revelados a outros. Mas um homem de sadia discrição terá cuidado de que nada desta natureza esteja ao alcance de um acidente [isto é, de alguém descobrir, por acidente, o conteúdo]. O que o Sr. Edwards queria manter escondido de todos os olhos, à exceção dos seus, ele o escreveu em símbolos. Em uma ocasião, após haver escrito consideravelmente dessa forma, acrescenta esta observação em sua escrita costumeira: ‘Lembre-se de agir de acordo com Pv 12:23. O homem prudente oculta o conhecimento.’
O leitor, enquanto investiga o Diário em suas várias partes, será afetado pelas seguintes características: Ele consiste de fatos; e de sólido pensamento, ditado por um profundo espírito religioso, e não por mera expressões de sentimento, ou reflexões ou exortações morais triviais. Era direcionado a si mesmo apenas, e não para seus amigos ou para o público. É uma exibição de simples pensamento, sentimento e ação de um homem, que não tem consciência de como eles parecem, senão para si e para Deus. Não são as observações de alguém desejoso de ser visto como humilde, exaltando a própria humildade. Se esperássemos um homem de simplicidade e piedade cristã trazer todos os movimentos secretos de sua própria alma à luz clara e forte dos céus, e sob ela inquirir com um olhar afiado e honesto, e com um coração contrito, para que fosse humilhado e aperfeiçoado, este relato [do Diário] é o que tal homem escreveria:”

Dezembro de 1722,
18 de dez. Hoje escrevi a 35ª Resolução. A razão pela qual eu, por pouco que seja, questiono meu interesse no amor e favor de Deus é:
1. porque não consigo falar tão plenamente da minha experiência dessa obra preparatória, de que falam os teólogos;
2. não lembro de ter experimentado a regeneração, naqueles passos exatos que os teólogos falam que geralmente ocorre;
3. não sinto as virtudes cristãs de maneira sensível, especialmente a fé. Temo que sejam apenas afeições exteriores hipócritas, que os ímpios podem sentir tanto quanto os outros. Elas não parecem ser suficientemente interiores, plenas, sinceras, inteiras e de coração. Não parecem tão substanciais, e trabalhadas na minha própria natureza, como eu gostaria;
4. porque sou, às vezes, culpado de pecados de omissão e comissão. Ultimamente tenho duvidado se não transgredi na maledicência. Hoje, resolvi: Não.
19 de dez. Hoje escrevi a 36ª Resolução. Ultimamente tenho estado perplexo, ao ver a doutrina do galardão celestial sendo questionada; porém agora já superei quase que por completo a dificuldade.
20 de dez. Hoje questionei se, de algum modo, não fui culpado de negligência ontem, e pela manhã de hoje; mas, resolvi: Não.
21 de dez, sexta-feira. Hoje e ontem, estive extremamente apático, seco e morto.
22 de dez. sábado. Hoje, reavivado pelo Espírito Santo de Deus; afetado com o senso da excelência da santidade, senti mais o exercício de amor a Cristo do que de costume. Também senti visível arrependimento pelo pecado, porque cometido contra um Deus tão misericordioso e bom. Esta noite, fiz a 37ª Resolução.
Dia do Senhor, à noite, 23 de dez. Fiz a 38ª Resolução.
Segunda-feira, 24 de dez. Pensamentos mais elevados do que os de costume acerca da excelência de Cristo e de seu reino. Concluí por observar, ao fim de cada mês, o número de quebras de resoluções, para ver se aumentaram ou diminuíram, a partir de hoje, e, a partir disso, calcular o crescimento mensal em uma base semanal, e a partir do todo, meu aumento anual, começando do dia de ano-novo.
Quarta-feira, 26 de dez. Ontem, cedo pela manhã, fui neutralizado pela dor de cabeça, que durou o dia inteiro (embora espere que não tenha perdido muito). Fiz uma adição à 37ª Resolução, relacionada às semanas, meses e anos. À noite. Fiz a 33ª Resolução.
Sábado, 29 de dez. Por volta do por do sol de hoje estive apático e sem vida.
Anos de 1722-1723
Terça-feira, 1º de jan. Estive apático por diversos dias. Examinei se não fui culpado de negligência no dia de hoje e resolvi: Não.
Quarta-feira, 2 de jan. Apático. Descubro, por experiência, que, ainda que faça resoluções, e o que quer que seja, com inúmeras ideias, tudo é nada, e sem propósito algum, sem os movimentos do Espírito de Deus. Pois se o Espírito Santo se ausentasse sempre de mim, como o fez na semana passada, não obstante tudo o que eu faça, não cresceria, mas definharia, e pereceria miseravelmente. Percebo que, se Deus retirasse seu Espírito um pouco mais, não hesitaria em quebrar minhas resoluções, e rapidamente voltaria ao meu antigo estado. Não há dependência em mim mesmo. Nossas resoluções podem estar no mais alto [patamar] num dia, contudo, no próximo, podemos estar em uma miserável condição de morte, sem a menor semelhança com a pessoa que tomou a resolução. Desse modo, é inútil tomar resoluções, a não ser que dependamos da graça de Deus. Pois, se não fosse por sua mera graça, alguém poderia ser muito bom num dia, e muito ímpio no próximo.

Também descobri por experiência que não há como desvendar os propósitos da Providência, e em particular as dispensações relacionadas a mim, a não ser o fato de que as aflições vêm como correções pelo pecado, e Deus pretende, quando nos encontramos com elas, que nós olhemos para trás na nossa caminhada, e vejamos onde erramos, e lamentemos desse pecado particular, e de todos os outros pecados, diante dele. Sabendo também isto: que todas as coisas cooperam para o nosso bem; embora não saibamos de que maneira, mas confiando em Deus.